Por Alexandra Alper e Matt Spetalnick
WASHINGTON (Reuters) - O vice-presidente dos Estados Unidos, Mike Pence, acusou nesta quinta-feira a China de restringir "direitos e liberdades" em Hong Kong, além de criticar a empresa norte-americana Nike e a National Basketball Association (NBA, na sigla em inglês) por se alinharem à Pequim, em desacordo com a liberdade de expressão.
Em um importante discurso político sobre a China --antes das negociações com Pequim com o objetivo de destravar a guerra comercial entre os dois países--, Pence disse que os EUA não buscam confronto ou "se dissociar" de seu principal rival econômico.
Mas ele criticou o tratamento que a China tem dado a protestos pró-democracia que têm chacoalhado Hong Kong há mais de quatro meses.
"Hong Kong é um exemplo vivo do que pode acontecer quando a China adota a liberdade", disse ele. "E, no entanto, nos últimos anos, Pequim aumentou suas intervenções em Hong Kong e se engajou em ações que restringem os direitos e as liberdades garantidos à população de Hong Kong por meio de um acordo internacional inviolável."
Pence também disse que os EUA estão com os manifestantes em Hong Kong, milhões dos quais foram às ruas em protestos, às vezes violentos, contra o que consideram como um aperto cada vez maior da China.
"Estamos com vocês, somos inspirados por vocês. Estimulamos vocês a permanecerem no caminho de protestos não violentos", disse Pence em seu discurso em um centro de estudos de Washington.
Ele criticou fortemente o país asiático por seu tratamento aos uigures --povo de origem turcomena-- muçulmanos na região de Xinjiang.
No início deste mês, os EUA impuseram restrições de visto a autoridades do governo chinês e do Partido Comunista --para os EUA responsáveis pela detenção ou abuso de minorias muçulmanas em Xinjiang.
Neste mês, autoridades americanas também incluíram a empresa chinesa de vigilância por vídeo Hikvision em uma lista negra comercial por seu suposto papel na repressão contra os uigures.
Pence dirigiu algumas de suas palavras mais duras para a Nike e a NBA, gigantes do esporte, acusando-as de apoiarem o Partido Comunista da China contra a liberdade de expressão em Hong Kong.
Pence, que muitas vezes é o rosto das políticas mais duras do governo de Donald Trump sobre a China, disse que a NBA e a Nike falharam em defender Darly Morey, gerente geral do time de basquete Houston Rockets, depois que ele escreveu no Twitter em apoio a manifestantes de Hong Kong no início deste mês.
"Alguns dos maiores jogadores e chefes da NBA, que rotineiramente exercem sua liberdade de criticar este país, perdem a voz quando se trata da liberdade e dos direitos de outros povos", disse ele.
"Ao apoiar o Partido Comunista Chinês e silenciar a liberdade de expressão, a NBA está agindo como uma subsidiária do regime autoritário", disse Pence.
As lojas da Nike na China removeram as mercadorias dos Rockets depois que Pequim criticou Morey, observou Pence. "A Nike se promove como uma campeã da justiça social, mas quando se trata de Hong Kong prefere deixar sua consciência social na porta", disse ele.
NEGOCIAÇÕES COMERCIAIS
O discurso de Pence, acompanhado de perto, vem antes de uma nova rodada de negociações entre o secretário do Tesouro norte-americano, Steven Mnuchin, e autoridades chinesas nesta sexta-feira para tentar encerrar uma contundente disputa comercial.
Os EUA deflagraram uma guerra comercial com a China há 15 meses, alegando práticas comerciais desleais, como roubo de propriedade intelectual dos EUA e concessão de generosos subsídios industriais, às custas de concorrentes estrangeiros.
Trump deve participar de uma cúpula no Chile, onde disse esperar fechar um acordo comercial de "primeira fase" com o presidente chinês, Xi Jinping.
Em junho, diante do receio de contrariar Pequim, a Casa Branca decidiu adiar um importante discurso de Pence sobre a China antes de uma reunião entre os líderes, com o objetivo de retomar as negociações comerciais.
Nesta quinta-feira, Pence disse que os Estados Unidos "não estão tentando conter o desenvolvimento da China". "Queremos um relacionamento construtivo com os líderes da China", disse ele, pedindo a Pequim que "aproveite esse momento único da história para começar de novo, encerrando as práticas comerciais que tiraram vantagem do povo norte-americano por muito tempo".