Por Maggie Fick e Jason Neely
ADIS ABEBA (Reuters) - O capitão de um avião acidentado da Ethiopian Airlines não treinou em um novo simulador do Boeing 737 MAX 8 antes de morrer em uma queda com outras 157 pessoas, disse um colega piloto.
Yared Getachew, de 29 anos, deveria fazer um treinamento de atualização no final de março, disse seu colega à Reuters, dois meses depois de a Ethiopian receber um dos primeiros simuladores do tipo sendo distribuídos.
O desastre de 10 de março, ocorrido depois da queda de um MAX 8 na Indonésia em outubro, desencadeou um dos maiores inquéritos da história da aviação, focado na segurança de um novo sistema automatizado e em descobrir se as tripulações o entenderam devidamente.
Nos dois casos, os pilotos perderam o controle pouco depois da decolagem e se esforçaram em vão para impedir que os aviões despencassem.
O MAX, que estreou dois anos atrás, tem um novo sistema automatizado chamado MCAS (Sistema de Aumento de Características de Manobras). Ele foi pensado para evitar a perda de sustentação, que pode causar uma pane aerodinâmica e fazer os aviões descerem de maneira descontrolada.
"A Boeing não enviou manuais sobre o MCAS", disse o piloto da Ethiopian Airlines à Reuters no saguão de um hotel, recusando-se a informar o nome porque as tripulações foram orientadas a não falar em público.
"Na verdade, sabemos mais sobre o sistema MCAS pela mídia do que pela Boeing".
Alvo de um escrutínio inédito, e com sua frota de MAX inativa em todo o mundo, a maior fabricante de aviões do mundo disse que as empresas aéreas receberam orientações sobre como reagir à ativação do programa do MCAS, e também prometeu uma atualização rápida.
A Ethiopian Airlines disse nesta quinta-feira que seus pilotos completaram o treinamento sobre as diferenças entre a aeronave 737 NG anterior e a versão 737 MAX recomendado pela Boeing e aprovado pela Agência Federal de Aviação dos Estados Unidos (FAA).
Eles também foram informados sobre uma diretriz de emergência após o acidente na Indonésia, que foi incorporada a manuais e procedimentos, disse a empresa no Twitter. O simulador do 737 MAX não foi concebido para replicar problemas do sistema MCAS, acrescentou.
"Pedimos que todos os envolvidos evitem fazer tais comentários desinformados, incorretos, irresponsáveis e enganadores durante o período da investigação do acidente", disse a companhia aérea.