Por Jonathan Spicer e Irem Koca
ISTAMBUL (Reuters) - Piratas na costa da Nigéria sequestraram 15 marinheiros de um navio porta-contêineres turco no Golfo da Guiné no sábado em um ataque abertamente violento que aconteceu mais longe da costa do que o normal.
Um marinheiro foi morto no ataque, um cidadão de Azerbaijão, enquanto os sequestrados são da Turquia, de acordo com os respectivos governos e a lista da tripulação obtida pela Reuters.
Relatos da tripulação, familiares e fontes de segurança descreveram um ataque sofisticado e bem orquestrado, no qual piratas armados embarcaram no navio e invadiram o bunker de proteção possivelmente com explosivos.
Três marinheiros permanecem no Mozart, que se aproximava de Port Gentil, no Gabão, neste domingo, onde deve atracar, de acordo com dados do Eikon Refinitiv. O navio de bandeira liberiana partiu de Lagos para a Cidade do Cabo quando foi atacado a 160 quilômetros da ilha de São Tomé no sábado, segundo informes marítimos.
O gabinete do presidente turco, Tayyip Erdogan, disse neste domingo que ele estava emitindo ordens a funcionários com o objetivo de "resgatar a tripulação sequestrada do navio".
Erdogan falou duas vezes por telefone com o quarto capitão do navio, Furkan Yaren, que permaneceu a bordo após o ataque, disse seu gabinete.
A agência estatal Anadolu citou Yaren dizendo que ele estava "navegando às cegas" em direção ao Gabão, com danos nos controles do navio e apenas o radar funcionando. Os piratas espancaram tripulantes e deixaram Yaren com uma perna machucada, enquanto outra pessoa a bordo do navio teve ferimentos por estilhaços, disse ele.
A mídia turca citou a empresa Boden, proprietária do navio com sede em Istambul, dizendo que os proprietários e operadores do navio foram sequestrados sob a mira de uma arma. A Boden não estava disponível para comentar.
Já a Ambrey, empresa de segurança, disse que quatro homens armados embarcaram no Mozart e entraram no bunker - onde a tripulação é aconselhada a se esconder em caso de qualquer ataque - a partir do convés no topo da cabine.
Edward Yeibo, comandante da Marinha nigeriana, disse que não teve conhecimento do ataque e que estava atrás de mais detalhes. O escritório do comando naval de Lagos e um porta-voz do regulador marítimo da Nigéria não comentaram o ataque.
DIVISOR DE ÁGUAS
Os piratas no Golfo da Guiné, que faz fronteira com mais de uma dúzia de países, sequestraram 130 marinheiros em 22 incidentes no ano passado, de acordo com um relatório do Bureau Marítimo Internacional.
O ataque ao Mozart pode aumentar a pressão internacional sobre a Nigéria para fazer mais para proteger os navios, que vêm pedindo medidas de mais segurança nas últimas semanas, disseram analistas.
"O fato de alguém ter morrido, o número de pessoas presas e o aparente uso de explosivos para violar o bunker do navio significam que esse ataque é um divisor de águas em potencial", disse David Johnson, CEO do EOS Risk Group, com sede no Reino Unido.
"Ele foi claramente bastante sofisticado e se os piratas decidiram usar munições foi uma jogada de grande risco", disse ele.
O Ministério das Relações Exteriores da Turquia disse que os piratas não fizeram nenhum contato com Ancara.
(Reportagem adicional de Tife Owolabi em Yenagoa, Nigeria e Jonathan Saul em Londres)