Por Shoon Naing e Thu Thu Aung
YANGON (Reuters) - Um policial de Mianmar que está cumprindo uma pena de prisão deu mais detalhes a um tribunal nesta quarta-feira sobre como, segundo ele, dois repórteres da Reuters foram incriminados pela polícia no que se tornou um caso emblemático sobre a liberdade de imprensa no país do sudeste asiático.
O capitão de polícia Moe Yan Naing, de 47 anos, que desde seu depoimento original de 20 de abril foi condenado a um ano de prisão por violar a disciplina da corporação, deu um relato minucioso de como ele diz que um chefe ordenou a subordinados que dessem documentos "secretos" ao repórter Wa Lone, da Reuters, em uma operação enganosa.
"Dei o depoimento como sei e como vi", disse Moe Yan Naing aos repórteres após a audiência, afirmando não se arrepender de seu testemunho.
O procurador-chefe, Kyaw Min Aung, não respondeu a um pedido de comentário após a audiência. O porta-voz do governo de Mianmar, Zaw Htay, disse: "Será conduzido de acordo com a lei. O tribunal é livre, imparcial, independente e confiável. Garantimos que os réus terão seus próprios direitos, o que significa escolher seus próprios advogados etc."
A corte de Yangon vem realizando audiências desde janeiro para decidir se Wa Lone, de 32 anos, e Kyaw Soe Oo, de 28, serão acusados de acordo com a Lei de Segredos Oficiais dos tempos coloniais, que acarreta uma pena máxima de 14 anos de prisão.
Na ocasião de suas prisões, os repórteres investigavam o assassinato de dez homens e meninos muçulmanos rohingya em um vilarejo de Rakhine, Estado do oeste de Mianmar. As mortes ocorreram durante uma operação de repressão do Exército que agências da Organização das Nações Unidas (ONU) disseram ter levado quase 700 mil pessoas a fugirem para Bangladesh.
Em um relato no qual se ateve a seu depoimento original, mas deu mais detalhes, Moe Yan Naing disse que em 12 de dezembro --horas antes de os jornalistas serem presos-- ele foi um de seis agentes previamente contatados por Wa Lone que foram interrogados pelo Setor Especial da Polícia.
A investigação interna foi conduzida pelo general de polícia Tin Ko Ko, segundo Moe Yan Naing. Quando Tin Ko Ko descobriu que um dos seis, o cabo Naing Lin, estava em contato com Wa Lone, mas não havia se encontrado em pessoa com ele, ordenou que Naing Lin usasse seu celular para marcar um encontro com Wa Lone naquela noite. "Sei que o general Tin Ko Ko instruiu o cabo de polícia Naing Lin a dar a Wa Lone documentos relacionados às nossas atividades na linha de fronteira para prendê-lo", disse Moe Yan Naing ao juiz Ye Lwin, que supervisiona os procedimentos.
Moe Yan Naing afirmou que Tin Ko Ko disse aos policiais envolvidos que, se não "pegassem Wa Lone", seriam detidos.
A Reuters não conseguiu fazer contato com Tin Ko Ko ou Naing Lin para obter comentários. Depois do depoimento inicial de Moe Yan Naing, um porta-voz da polícia disse que o general "não tem motivo para fazer tal coisa".
Os procuradores haviam convocado Moe Yan Naing como testemunha, mas na semana passada pediram à corte que o declarasse indigno de confiança depois que seu depoimento pareceu minar seu caso. O juiz rejeitou tal pedido na semana passada.
(Reportagem adicional de Yimou Lee)