Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - Apesar de uma nova rodada de negociações marcada para este mês, a possibilidade de um acordo entre Mercosul e União Europeia é remota e um fim para a novela que se arrasta há mais de uma década é improvável, disse à Reuters uma fonte que acompanha de perto as tentativas de acordo.
A previsão para as eleições do Parlamento Europeu, marcadas para o final deste mês, são de um aumento da participação do bloco chamado de nacional-populistas, que concentram os partidos de extrema-direita europeus, mais conservadores e com uma política mais protecionista.
"Hoje a França não quer um acordo, Itália não quer, Polônia não quer... você tem eleições este mês no Parlamento. É só fazer as contas", disse a fonte.
As negociações chegaram a um impasse, mais uma vez, em dezembro do ano passado, depois de avançarem com alguma consistência desde 2016.
Pontos considerados chave para os países do Mercosul, como uma cota maior na exportação de carne e outros relacionados à agricultura, não avançaram no último ano.
A UE buscava concessões em relação a carros, peças automotivas, regras de origem, contratos públicos, setor marítimo, laticínios e indicações geográficas.
Já os europeus acusam os sul-americanos de terem recuado em pontos já acordados. A mesma acusação é feita pelo Mercosul à UE.
Uma segunda fonte ouvida pela Reuters confirma a expectativa de que movimentos conservadores avancem no Parlamento Europeu. Apesar de destacar que esses movimentos são muito heterogêneos, a fonte concorda que existe um ponto em comum entre eles que é o aumento do protecionismo.
"Há sim toda uma questão de nacionalismo e de tentar retomar o controle, as rédeas dos próprios países", disse.
O acordo foi tema da recente visita do ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Heiko Mass, ao Brasil. Em fala à imprensa, Mass e o chanceler brasileiro destacaram a necessidade de dar um impulso no que chamaram de "reta final" do acordo.
A Alemanha é hoje um dos poucos países europeus entusiastas do acordo, mas não tem conseguido avançar.
"Tem um outro peso nessa questão: boa parte dos europeus não gosta da atual política brasileira", disse a primeira fonte, explicando que isso acaba servindo de desculpa na mesa de negociações, especialmente em questões ligadas ao meio ambiente.