ASTANA (Reuters) - A Rússia e as potências regionais Turquia e Irã apoiaram uma trégua vacilante entre as partes em guerra na Síria nesta terça-feira e concordaram em monitorar seu cumprimento, mas em solo sírio os rebeldes se envolveram em combates contínuos em duas frentes que poderiam minar o acordo.
Depois de dois dias de deliberações em Astana, o ministro das Relações Exteriores do Cazaquistão, Kairat Abdrakhmanov, disse que as potências concordaram, em um comunicado final, em criar um sistema "para observar e garantir o cumprimento total do cessar-fogo, evitar quaisquer provocações e determinar todas as modalidades de cessar-fogo".
Embora tenha saudado o texto, o negociador-chefe do governo sírio, Bashar Ja'afari, disse que uma ofensiva contra os rebeldes irá continuar em curso no oeste de Damasco. Os insurgentes dizem se tratar de uma grande violação da trégua acertada em 30 de dezembro.
Por sua vez, o negociador da oposição, Mohammad Alloush, disse ter reservas em relação ao texto, que afirmou legitimar o "derramamento de sangue" iraniano na Síria e não abordar o papel das milícias xiitas que combatem os rebeldes.
No noroeste sírio, combates intensos irromperam entre o grupo jihadista Jabhat Fateh al-Sham e facções do Exército Livre da Síria (FSA, na sigla em inglês) que estão representadas nas conversas na capital cazaque.
Grupos do FSA ainda estão se recuperando depois de serem expulsos da cidade de Aleppo no mês passado por forças do governo e seus aliados. Qualquer perda de território adicional em seu principal bastião do norte – desta vez pelas mãos de insurgentes jihadistas – poderiam deixá-los fracos demais para obter qualquer avanço relevante na negociação de paz.
Em Astana, delegados rebeldes e governamentais realizaram conversas indiretas pela primeira vez em nove meses no momento em que a Turquia, que apoia os rebeldes, e a Rússia, que defende o presidente sírio, Bashar al-Assad, procuram se desvencilhar dos combates.
Isso levou os dois países a formar uma aliança de ocasião que alguns acreditam representar a melhor chance de avanço rumo a um acordo de paz, especialmente agora que os Estados Unidos estão ocupados com assuntos internos.
As tratativas representam um golpe para Moscou, que se tornou o principal mediador de forças desde a intervenção militar que realizou em setembro de 2015 para apoiar Assad. "Conseguimos... dar à luz o processo de Astana", disse o chefe da delegação russa, Alexander Lavrentyev, aos repórteres.
O texto final não forneceu nenhum detalhe além de reafirmar o cessar-fogo russo-turco de 30 de dezembro.
(Por Suleiman Al-Khalidi, John Irish e Olzhas Auyezov)