Por Isabel Coles e Stephen Kalin
MOSUL/ERBIL, Iraque (Reuters) - O primeiro-ministro do Iraque, Haider al-Abadi, declarou vitória sobre o Estado Islâmico em Mosul nesta segunda-feira, três anos depois de os militantes tomarem a cidade e transformá-la no bastião de um "califado" que disseram que iria dominar o mundo.
"Anuncio daqui o fim, o fracasso e o colapso do Estado terrorista de falsidade e terrorismo que o terrorista Daesh anunciou de Mosul", disse Haider al-Abadi em um discurso exibido na televisão estatal usando um acrônimo árabe para o Estado Islâmico.
Uma aliança de 100 mil efetivos de unidades do governo iraquiano, combatentes curdos peshmerga e milícias xiitas lançaram a ofensiva para recapturar a cidade dos militantes em outubro, com apoio aéreo e terrestre de uma coalizão liderada pelos Estados Unidos.
Vestindo um uniforme militar negro e flanqueado por comandantes das forças de segurança, Abadi agradeceu às tropas e à coalizão, mas alertou que há mais desafios pela frente.
"Temos mais uma missão à nossa frente, criar estabilidade, construir e desmontar células do Estado Islâmico, e isso exige um esforço de inteligência e de segurança, e a união que nos permite combater o Estado Islâmico", disse antes de hastear uma bandeira iraquiana.
O Iraque declarou feriado de uma semana para marcar a vitória. Pessoas celebraram nas ruas da capital Bagdá e cidades do sul.
Abadi chegou a Mosul no domingo para parabenizar os comandantes militares envolvidos em uma batalha de quase nove meses para reconquistar a localidade, muitas partes das quais foram reduzidas a escombros.
Era possível ouvir no início do dia tiros e explosões enquanto a coalizão liderada pelos Estados Unidos bombardeava as poucas posições restantes do grupo.
A coalizão disse em uma declaração que as forças iraquianas tinham o "firme controle" de Mosul, mas algumas áreas ainda precisavam ser limpas de dispositivos explosivos e de possíveis combatentes escondidos do Estado Islâmico.
Abadi tem se encontrado com autoridades militares e políticas em Mosul em um clima de festa que contrasta com o medo que se disseminou rapidamente quando algumas centenas de combatentes do Estado Islâmico tomaram a cidade e o Exército do país desmoronou em julho de 2014.
O líder do Estado Islâmico, Abu Bakr al-Baghdadi, chocou o Oriente Médio e potências ocidentais três anos atrás ao aparecer no púlpito da Grande Mesquita de Al-Nuri em plena luz do dia, declarando um califado e se colocando como líder do mundo muçulmano.
Um reinado de terror se seguiu, o que eventualmente alienou até muitos dos muçulmanos sunitas que apoiaram o grupo como um aliado contra a maioria xiita iraquiana. Os oponentes do Estado Islâmico foram executados e crimes como fumar um cigarro foram punidos com chicoteamentos públicos.
Desde a invasão liderada pelos EUA em 2003 que derrubou Saddam Hussein, os xiitas têm sido politicamente dominantes no Iraque, mas o país tem sofrido com conflitos étnicos.
Baghdadi fugiu da cidade e seu paradeiro exato é desconhecido. Há relatos de que ele está morto, mas autoridades iraquianas e ocidentais não conseguiram uma confirmação.
Mesmo que Baghdadi seja morto ou capturado, é improvável que isso detenha o Estado Islâmico, que agora deve ir para o deserto ou as montanhas do Iraque e desencadear uma insurgência.
Os militantes devem continuar tramando ataques contra o Ocidente e inspirando atos de violência de estilo "lobo solitário" de indivíduos ou grupos pequenos, como visto em incidentes recentes no Reino Unido, na França e em outros locais.
Mas a perda da segunda maior cidade do Iraque é um golpe duro para os extremistas.
"A recuperação de Mosul é um passo significativo na luta contra o terrorismo e o extremismo violento", disse o porta-voz do secretário-geral da ONU Antonio Guterres.
O Estado islâmico também está sob forte pressão em sua sede operacional na cidade síria de Raqqa.