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"Preparando-se para a guerra", africanos armazenam produtos em meio à propagação do coronavírus

Publicado 17.03.2020, 13:52
"Preparando-se para a guerra", africanos armazenam produtos em meio à propagação do coronavírus

Por Clement Uwiringiyimana

KIGALI (Reuters) - Consumidores alarmados lotavam mercados de toda a África nesta terça-feira, muitos com máscaras e luvas, para fazerem estoques agora que o coronavírus está se alastrando pelo continente mais pobre do mundo.

Os preços subiram em algumas partes, mas ao menos um país, Ruanda, tentou controlar os custos de alguns alimentos básicos.

"É como se as pessoas estivessem se preparando para a guerra", disse um lojista espantado enquanto ruandenses disputavam arroz, óleo de cozinha, açúcar e farinha em um mercado da capital Kigali.

"Os preços subiram, e mesmo assim elas compram."

Inicialmente poupada enquanto o coronavírus assolava a China e depois se disseminava, a África viu uma disparada de casos neste mês, e governos estão adotando medidas drásticas para conter sua proliferação.

Ao menos 30 nações africanas já relataram mais de 400 casos, sete deles em Ruanda.

Para muitos africanos mais pobres, a compra impulsiva é um luxo que não podem se permitir.

"Os ricos não temem preços altos. Eles estão comprando em grande quantidade", disse Pascal Murengezi, de 43 anos, que tem três filhos e vendia roupas de segunda mão nos arredores do mercado de Nyarugenge, em Kigali, dizendo não poder arcar com mais do que comida suficiente para um dia.

"Se o surto continuar, não sei como venderei roupa em ruas vazias."

O lojista, que não quis informar o nome por temer uma visita de inspetores, disse que o arroz da Tanzânia subiu de 27 mil para 30 mil francos por saco de 25 quilos, e o arroz paquistanês foi de 22 mil para 28 mil francos.

Falando enquanto clientes com máscaras e luvas selecionavam itens, ele culpou os atacadistas pelos aumentos.

Na noite de segunda-feira, o Ministério do Comércio de Ruanda fixou os preços de 17 produtos alimentícios, como arroz, óleo de cozinha e açúcar, mas não especificou as punições pelo superfaturamento.

Exasperada pelos aumentos, Beatrice, ruandense de 52 anos com um filho e sem emprego, disse que só podia comprar um mínimo de arroz. "Você não aguenta ver os filhos passando fome", disse ela. "Não sabemos quando este coronavírus acabará. Se tivesse mais dinheiro, compraria muito mais comida".

Da África do Sul ao Senegal, longas filas se formaram diante de lojas enquanto famílias se abasteciam de itens como desinfetantes e macarrão.

No supermercado Checkers, a auditora Sihle Qalinge disse que saiu escondida do trabalho para comprar papel higiênico, que procurava desde domingo.

(Reportagem adicional de George Obulutsa e Katharine Houreld em Nairóbi, Nqobile Dludla em Joanesburgo e Juliette Jabkhiro em Dacar)

((Tradução Redação São Paulo, 5511 56447702)) REUTERS AC

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