Por Julia Symmes Cobb e Nelson Bocanegra
BOGOTÁ/HAVANA (Reuters) - O presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, ordenou nesta quarta-feira a retomada de missões de bombardeio contra os rebeldes das Farc, depois que um ataque atribuído ao grupo matou 10 soldados, uma medida que vai intensificar os confrontos após longos esforços para reduzir as tensões.
Como parte das negociações de paz com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), Santos interrompeu no mês passado as incursões aéreas contra os esconderijos rebeldes em reconhecimento a um cessar-fogo unilateral declarado em dezembro pelo grupo insurgente.
Os soldados foram mortos na província rural de Cauca, no sudoeste do país, nas primeiras horas desta quarta-feira, quando as Farc realizaram uma emboscada, lançando granadas e atirando contra os membros das Forças Armadas que se encontravam refugiados num campo esportivo coberto, segundo o Exército.
"Esse incidente foi produto de um ataque deliberado das Farc, não foi uma coincidência, e isso implica uma clara ruptura da promessa de um cessar-fogo unilateral", disse Santos após uma reunião com sua equipe de defesa em Cali.
"Eu ordenei que as Forças Armadas retirem a suspensão dos bombardeios contra os acampamentos das Farc", acrescentou o presidente.
Santos afirmou que o ataque, no qual um combatente das Farc também morreu, não ficaria impune. Ao menos nove soldados do governo ficaram feridos.
Embora seja improvável que o incidente venha a prejudicar as negociações de paz, que já duram dois anos em Cuba, trata-se do primeiro ataque importante a ser atribuído às Farc desde a declaração do cessar-fogo.
No ano passado, as conversas foram suspensas após os rebeldes sequestrarem um general do Exército e vários soldados, que foram posteriormente libertados.
O líder das Farc, Pablo Catatumbo, disse à Reuters que o grupo lamenta os incidentes, que não foram "premeditados". Ele acrescentou que a liderança estava avaliando a situação e um comunicado deve ser emitido em breve.
O confronto "parece ter sido causado pela incoerência por parte do governo, ordenando operações militares contra uma força rebelde que está em cessar-fogo", disse o negociador das Farc, Pastor Alape, a repórteres, em Havana. Ele reiterou a exigência por um cessar-fogo bilateral.
Santos se recusou a declarar uma interrupção completa das missões militares, embora tenha reconhecido que as Farc haviam, até o momento, de fato aderido ao cessar-fogo.
As Farc aproveitaram um período de cessar-fogo num processo de paz anterior, mais de 10 anos atrás, para reagrupar suas forças e incrementar seu poderio militar.
"Eventos desse tipo e dessa seriedade demonstram mais uma vez a necessidade de se acelerar as negociações para dar um fim a esse conflito, que continua a trazer tristeza às famílias colombianas", disse o presidente.
(Reportagem adicional de Nelson Acosta, em Havana; e de Peter Murphy, em Bogotá)