Por Andrew Cawthorne
CARACAS (Reuters) - O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, ridicularizou a decisão dos Estados Unidos de classificar o país como uma ameaça à sua segurança e disse que poderá ir a Washington para contestar o presidente norte-americano, Barack Obama.
"Exigimos, por meio de todos os canais diplomáticos mundiais, que o presidente Obama retifique e revogue o decreto imoral que declara a Venezuela uma ameaça para os Estados Unidos", disse Maduro na quinta-feira à noite.
Na pior rusga entre os inimigos ideológicos desde que Maduro tomou posse em 2013, os EUA declararam no início desta semana "emergência nacional" pela "ameaça incomum e extraordinária" da Venezuela, e impuseram sanções a sete funcionários venezuelanos, acusando-os de corrupção e violação de direitos.
O governo Maduro exigiu provas da ameaça da Venezuela à segurança dos EUA. Por outro lado, acusa Washington de ajudar golpistas e preparar uma intervenção militar no país.
Autoridades dos EUA dizem que a intenção de Obama é fazer com que o governo da Venezuela mude seu modo de agir, e não derrubá-lo.
Em declarações em uma feira de livros, Maduro, de 52 anos, sucessor de Hugo Chávez –-feroz adversário dos EUA-–, disse que a Venezuela prepara um evento em Washington para fazer pressão.
"Talvez eu apareça em Washington nessa exposição, para mostrar o meu rosto pelo meu país e dizer ao governo em Washington que está cometendo erros graves", disse ele. Não foram dados mais detalhes desse evento nos EUA.
A Venezuela também vem exigindo que os Estados Unidos reduzam o quadro de funcionários em sua embaixada em Caracas de 100 para 17 pessoas, o que tem levado a disputa a dominar as manchetes locais, ofuscando a crise econômica.
O líder oposicionista Henrique Capriles acusou Maduro de usar a desavença como uma cortina de fumaça. "A inflação atravessa o telhado. A escassez também. Assassinatos e pobreza aumentam. E os governantes sem-vergonha nos falam em invasão", ele tuitou.
A coalizão de grupos oposicionistas na Venezuela procura dissociar-se de qualquer percepção de apoio a uma intervenção estrangeira nos assuntos do país, ao mesmo tempo em que endossa as acusações de repressão e corrupção.
Vários aliados de Maduro, incluindo a Rússia e a Argentina, enviaram mensagens de apoio à Venezuela, assim como a Unasul, bloco regional sul-americano, enquanto os críticos da política externa dos EUA protestam contra ações do governo.
"A Venezuela é um dos poucos países com reservas de petróleo significativas que não se submetem aos ditames dos EUA", escreveu Glenn Greenwald, o jornalista que primeiro divulgou os documentos vazados pelo ex-subcontratado espião norte-americano Edward Snowden, que está foragido. "Esses países estão sempre no topo da lista do governo e da mídia dos EUA para serem demonizados", disse.
Instigando o sentimento nacionalista, Maduro comandou uma marcha "anti-imperialista" na quinta-feira. No fim de semana a Assembleia Nacional deverá conceder-lhe poderes especiais para baixar decretos que, segundo afirma, são necessários depois da iniciativa dos EUA de considerarem o país uma ameaça à sua segurança.
(Reportagem de Jeremy Laurence)