DUBAI (Reuters) - O presidente do Irã, Hassan Rouhani, acusou os Estados Unidos nesta quarta-feira de tramarem para usar a pressão econômica para derrubar o establishment clerical da República Islâmica, e descartou a possibilidade de conversas com Washington.
"O Irã está em guerra econômica e psicológica com a América e seus aliados. A meta deles é mudar o regime, mas seu desejo não será satisfeito", disse Rouhani em um discurso em Gilan, província do norte do país.
As tensões entre EUA e Irã aumentaram depois que o presidente Donald Trump retirou Washington de um acordo de potências mundiais firmado com Teerã em 2015 que limitou suas contestadas atividades nucleares. Trump disse que o pacto é falho por não refrear o programa de mísseis balísticos iraniano ou seu apoio a representantes do regime na Síria, Iêmen, Líbano e Iraque.
Washington readotou sanções contra o Irã que haviam sido suspensas em 2016 graças ao acordo. O novo endurecimento dos EUA provocou a queda da moeda iraniana, uma inflação galopante e a fuga de investidores estrangeiros de que Teerã necessita desesperadamente para modernizar sua economia.
Os outros signatários do acordo – China, França, Reino Unido, Rússia e Alemanha – se opõem à readoção de sanções dos EUA aos setores financeiro e petrolífero e vêm tentando salvar o pacto de 2015 procurando formas de negociar com o Irã que não envolvam dólares.
Autoridades iranianas disseram que o governo Trump expressou em segredo a disposição de iniciar conversas com o Irã.
"Não existe nenhuma possibilidade de iniciar conversas com a América", afirmou Rouhani em um discurso na cidade de Lahijan transmitido ao vivo pela televisão estatal. "A América quer fazer o Irã retroceder 40 anos... à era anterior à Revolução (Islâmica de 1979)... eles querem uma mudança de regime."
Analistas dizem que o líder supremo clerical do Irã, aiatolá Ali Khamenei, apoiou o acordo de 2015 veladamente, já que sabia que os iranianos, muitos dos quais vão às ruas periodicamente para protestar contra as dificuldades econômicas, não tolerariam mais pressões.
Os líderes iranianos alertaram que Teerã pode se desligar do acordo nuclear se os outros signatários não conseguirem assegurar os benefícios econômicos decorrentes do pacto.
"Nossa nação e a liderança estão unidos contra nossos inimigos... continuaremos em nosso caminho de independência e liberdade", disse Rouhani, o arquiteto do acordo nuclear.