Por Crispian Balmer e Angelo Amante
ROMA (Reuters) - O presidente italiano, Sergio Mattarella, disse a Elon Musk para não interferir nos assuntos italianos, depois que o bilionário afirmou que os juízes de Roma que bloquearam uma iniciativa anti-imigração do governo deveriam ser demitidos.
A declaração altamente incomum do chefe de Estado italiano ocorreu em um cenário de crescente tensão entre a coalizão governista e o Judiciário, o que atraiu a atenção de Musk, que é amigo da primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni.
"Esses juízes precisam ir embora", escreveu Musk no X na terça-feira, referindo-se a um painel de magistrados de Roma que questionou a legalidade de uma iniciativa do governo para deter requerentes de asilo na Albânia -- uma medida destinada a desencorajar a imigração irregular.
A decisão dos magistrados significou que um pequeno grupo de migrantes que acabara de ser levado para a Albânia teve que ser trazido para a Itália, lançando dúvidas sobre o principal plano de Meloni para reprimir as chegadas irregulares.
O comentário de Musk foi estampado nas primeiras páginas dos jornais italianos na quarta-feira e ocorreu poucas horas antes de o presidente eleito dos EUA, Donald Trump, ter lhe dado um papel de liderança com o objetivo de criar um governo mais eficiente nos Estados Unidos.
"A Itália é um grande país democrático e... sabe como cuidar de si mesma", disse Mattarella, que consistentemente lidera as pesquisas de opinião como o líder mais respeitado da Itália.
"Qualquer pessoa, especialmente se, como anunciado, estiver prestes a assumir um importante papel de governo em um país amigo e aliado, deve respeitar sua soberania e não pode se dar a tarefa de emitir instruções."
Não houve nenhum comentário imediato de Musk, mas assim que a declaração de Mattarella foi divulgada, ele voltou à questão da migração, escrevendo: "O povo da Itália vive em uma democracia ou é uma autocracia não eleita que toma as decisões?".
Embora Meloni não tenha feito nenhum comentário sobre as publicações de Musk, o vice-primeiro-ministro Matteo Salvini saudou sua intervenção. "@elonmusk está certo", disse ele no X na terça-feira.
A controvérsia gira em torno de uma decisão de outubro do Tribunal de Justiça da UE (TJE), que afirmou que nenhuma nação de origem poderia ser considerada segura se uma parte dela fosse perigosa -- uma posição que questionou a política da Itália de tentar repatriar migrantes sem visto para seus países de origem.
A decisão do TJE se referia a um caso tcheco, mas é válida para toda a União Europeia, e chegou no momento em que o governo de Meloni estava construindo centros de detenção na Albânia, encarregados de processar os migrantes apanhados no mar quando tentavam chegar à Itália.
O objetivo dos centros é acelerar as repatriações, mas o tribunal de Roma disse que isso não deve acontecer antes que o TJE forneça mais esclarecimentos.