Por Guy Faulconbridge e Elizabeth Piper
LONDRES (Reuters) - Eleitores ingleses frustrados com o impasse em torno do Brexit puniram o Partido Conservador, da primeira-ministra britânica, Theresa May, e a principal sigla de oposição, o Partido Trabalhista, em eleições locais, segundo resultados divulgados nesta sexta-feira.
Os números da eleição de quinta-feira são mais um sinal de como o referendo britânico de 2016 para romper com a União Europeia dividiu o eleitorado para além do partidarismo tradicional, mas também são um primeiro indício do estrago que o Brexit fez nos dois grandes partidos.
O Brexit abalou a reputação dos grandes partidos, ambos divididos internamente quanto a como ou até se conduzirão o país para fora da UE, que tiveram dificuldade para transmitir uma mensagem coesa aos eleitores dos dois lados.
"Parece os eleitores, ponto final, dizendo: 'Uma praga sobre as casas de ambos'", disse John Curtice, importante especialista em pesquisas do Reino Unido.
A frustração transbordou em alguns momentos. Um membro da plateia gritou "Por que você não renuncia?" antes de May discursar a conservadores no País de Gales. Algumas cédulas foram danificadas, já que alguns eleitores se recusaram a votar em qualquer uma das siglas.
Com 90 por cento das urnas apuradas, o Partido Conservador havia sofrido uma perda de 1.124 assentos em conselhos ingleses locais nos quais buscava se reeleger --cerca de um quarto das vagas. Os trabalhistas, que normalmente esperariam conseguir centenas de assentos em uma votação de meio de mandato, ao invés disso perderam 100 deles.
O maior beneficiário da indignação com os dois principais partidos foi o Partido Liberal-Democrata, que fez campanha exigindo abertamente um segundo referendo visando reverter o Brexit. Por ora eles conseguiram 599 conselheiros, dobrando suas cadeiras. Os Verdes, que também apoiam um segundo referendo sobre o Brexit, ganharam 164 assentos.
O Partido da Independência (Ukip) pró-Brexit perdeu assentos, mas seu ex-líder criou um novo Partido do Brexit, que pediu a seus apoiadores para ficarem em casa ou danificarem suas cédulas.
O Reino Unido deveria ter saído da UE em 29 de março, mas como o Parlamento rejeitou várias vezes o acordo de May sobre os termos da separação, ela foi forçada a buscar uma prorrogação.
Agora o Brexit está previsto para outubro, e May negocia com os trabalhistas para encontrar um meio-termo. Mas não há expectativas de que as conversas da próxima semana rompam o impasse.
Os resultados sugerem que os dois partidos principais podem levar uma surra nas eleições do Parlamento Europeu no dia 23 de maio, em que o Reino Unido terá que participar por não ter conseguido deixar o bloco até agora. Os conservadores e os trabalhistas enfrentarão uma gama de partidos que atraem seus ativistas com posições explicitamente pró e anti-Brexit.
(Reportagem adicional de James Davey)