Por Minwoo Park e Daewoung Kim
SEUL (Reuters) - A música K-pop pode ser o produto de exportação mais badalado da Coreia do Sul, mas o setor cria desnecessariamente montanhas de plástico em seu mercado interno ao fabricar CDs que a maioria dos fãs nem sequer ouve, dizem os críticos.
O que interessa aos fãs são as fotos dos membros da banda que acompanham o CD. Funcionam essencialmente como cartas de troca e muitas vezes se tornam itens de colecionador. O problema é que cada CD geralmente contém fotos de apenas um membro da banda, não se sabe ao certo quais fotos estarão nos CDs e os fãs geralmente compram vários CDs até obterem seu integrante favorito.
A prática, embora muito lucrativa para as agências de K-pop, é um enorme desperdício, diz Kim Na-yeon, do grupo ativista Kpop4planet.
O grupo planeja enfatizar a questão enquanto a Coreia do Sul sedia negociações da ONU sobre um tratado para controlar o lixo plástico na próxima semana e participará de uma manifestação para aumentar a conscientização sobre a crise climática neste sábado.
"A maioria das pessoas ouve música por streaming e a maioria nem sequer tem tocadores de CD", disse Kim.
De fato, apenas 8% dos sul-coreanos usam álbuns físicos para ouvir música, de acordo com um relatório de 2024 da Korea Creative Content Agency sobre o setor musical.
Não é incomum que alguns fãs comprem, por exemplo, 10 CDs, guardem as fotos, mas joguem fora muitos dos CDs de fato. Alguns até compram muito mais porque muitas vezes a compra coloca o comprador automaticamente em uma loteria de ingressos para encontros com membros da banda.
Kim Do-yeon, uma fã de K-pop de 24 anos, disse que, embora não seja ideal para o ambiente, ela costuma comprar vários CDs com a mesma música de sua banda favorita.
"Eu compro vários CDs porque cada versão é embalada de forma diferente -- em particular, as fotos são diferentes", disse.
Essas táticas de marketing das agências de K-pop fizeram com que, na Coreia do Sul, as vendas de álbuns físicos -- que são quase todos CDs -- quase triplicassem em três anos, chegando a mais de 119 milhões em 2023, de acordo com o rastreador de vendas de álbuns sul-coreano Circle Chart.
Esse foi o principal fator por trás de um salto de 13% na receita global de álbuns físicos no ano passado, de acordo com o relatório Global Music da IFPI, um órgão do setor.
A quantidade de plástico usada pelas agências de K-pop aumentou, atingindo cerca de 800 toneladas em 2022, um crescimento de 14 vezes em relação a 2017, de acordo com uma declaração do parlamentar sul-coreano Woo Won-shik, que citou dados do Ministério do Meio Ambiente do país.
A questão das táticas de marketing do K-pop também foi debatida nas reuniões do comitê de meio ambiente e trabalho do Parlamento, mas a prática não mostra sinais de acabar.
As agências de K-pop enfatizam que estão usando materiais reciclados ou ecologicamente corretos e começaram a emitir relatórios de sustentabilidade.
Questionada sobre as críticas relacionadas às práticas de marketing de CDs do setor, a HYBE, agência do supergrupo de K-pop, BTS, disse que planeja expandir muito suas ofertas dos chamados álbuns Weverse, em que os fãs acessam músicas e conteúdo digital, como fotos, comprando-os por meio de um código QR.
Outras agências de K-pop, SM Entertainment e JYP Entertainment, não responderam a pedidos da Reuters para comentar o assunto, e a YG Entertainment encaminhou à reportagem seu relatório de sustentabilidade.