Por Michael Holden
SALISBURY, Reino Unido (Reuters) - O ex-agente duplo russo Sergei Skripal acredita que o presidente russo, Vladimir Putin, ordenou seu envenenamento por Novichok, informou nesta segunda-feira a uma investigação sobre a morte de uma mulher involuntariamente envenenada pelo agente nervoso.
Skripal e sua filha Yulia foram encontrados inconscientes em um banco público na cidade de Salisbury, no sul da Inglaterra, em março de 2018, após o Novichok ser depositado na maçaneta da porta da frente de sua casa.
Quatro meses depois, Dawn Sturgess, mãe de três filhos, morreu por exposição ao veneno após seu parceiro encontrar um frasco de perfume falsificado que a polícia acredita ter sido usado por espiões russos para contrabandear o agente nervoso de nível militar para o país.
Skripal, sua filha e um policial que foi à casa deles ficaram gravemente doentes devido aos efeitos do veneno, mas se recuperaram.
O envenenamento levou às maiores expulsões diplomáticas entre o Oriente e o Ocidente desde a Guerra Fria. A Rússia rejeitou repetidamente as acusações britânicas de que estaria envolvida.
Skripal não se pronunciou publicamente desde o ataque, mas em uma declaração ao inquérito público sobre a morte de Sturgess, ele disse que culpava Putin, embora reconheça que não tem provas concretas.
"Acredito que Putin toma todas as decisões importantes por conta própria. Portanto, acho que ele deve ter, pelo menos, dado permissão para o ataque a Yulia e a mim", disse Skripal na declaração lida por Andrew O'Connor, advogado do inquérito.
Skripal -- que vendeu segredos russos para o Reino Unido, foi para lá após uma troca de espiões em 2010 e afirma que conhecia Putin pessoalmente -- disse que estava ciente das alegações de que o presidente russo estaria envolvido em atividades ilegais relacionadas ao descarte de metais raros.
"Li que Putin é uma pessoa muito interessada em veneno e gosta de ler livros sobre o assunto", disse em sua declaração.
O governo britânico também considera que agentes russos realizaram o ataque em uma operação autorizada por Putin, disse a advogada Cathryn McGahey ao inquérito.
PEGO EM FOGO CRUZADO
Anteriormente, o inquérito foi informado de que Sturgess, 44 anos, foi pega no "fogo cruzado" de uma tentativa de assassinato internacional.
Evidências sugerem que o frasco de perfume contaminado continha veneno suficiente para matar milhares de pessoas, disse O'Connor.
"O senhor pode concluir (...) que aqueles que descartaram o frasco dessa forma agiram com um desrespeito grotesco pela vida humana", disse ele ao presidente do inquérito, o ex-juiz da Suprema Corte Anthony Hughes.
Na semana passada, a embaixada russa em Londres rejeitou as acusações britânicas sobre "o suposto uso do mítico Novichok" como bastante absurdas. O'Connor disse que o inquérito levaria em conta a resposta russa.
(Reportagem de Michael Holden)