Por William James e Kate Holton
LONDRES (Reuters) - O primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, limitará o poder do Parlamento de frustrar seu plano para a separação britânica da União Europeia reduzindo o tempo em que este se reunirá entre agora e o prazo de saída de 31 de outubro, enfurecendo opositores que fizeram um apelo pela intervenção da rainha Elizabeth.
Em sua manobra mais ousada até agora para concretizar o Brexit com ou sem um acordo, Johnson agendou para 14 de setembro o Discurso da Rainha – a aberta formal de uma nova sessão do Parlamento, que é precedida por uma suspensão da Câmara dos Comuns.
A rainha concordou com a data, na prática suspendendo o Parlamento durante cerca de um mês a partir de meados de setembro.
Furiosos, líderes opositores escreveram à rainha para expressar sua preocupação e pediram uma reunião, ameaçando arrastar a monarca de 93 anos para a crise constitucional.
"Haverá tempo de sobra no Parlamento para os parlamentares debaterem a UE, debaterem o Brexit e todas as outras questões, tempo de sobra", disse Johnson aos repórteres.
Indagado se está tentando impedir os parlamentares de adiarem a ruptura com o bloco, ele respondeu: "Isso é completamente falso".
Embora suspender o Parlamento antes do Discurso da Rainha seja a norma histórica no Reino Unido, a decisão de limitar a análise parlamentar semanas antes da decisão política mais polêmica do país em décadas provocou uma revolta imediata.
Ela também aumentou as chances de Johnson enfrentar uma moção de desconfiança no Executivo, o que pode desencadear uma eleição.
"Não se enganem, este é um golpe muito britânico", disse John McDonnell, segundo homem mais poderoso do opositor Partido Trabalhista. "Qualquer que seja sua opinião sobre o Brexit, uma vez que você permite que um primeiro-ministro impeça a operação completa e livre de nossas instituições democráticas, você está em um caminho muito precário."
A libra esterlina sofreu uma grande queda, já que os investidores viram a notícia como um sinal de que um Brexit sem acordo, e a perspectiva de um abalo na economia britânica, é mais provável.
A Igreja da Inglaterra disse que uma saída caótica da UE prejudicará os pobres, o presidente do Parlamento disse que os políticos precisam ser ouvidos e um grupo de parlamentares de vários partidos pediu uma medida liminar.
Faltando 65 dias para a desfiliação, os parlamentares estão lutando para impedir o premiê de tirar o Reino Unido da UE sem um acordo de transição, o que colocaria um dos países mais estáveis da Europa em um terreno desconhecido.
(Reportagem adicional de William Schomberg, David Milliken, Costas Pitas, Paul Sandle e Alistair Smout)