Por Pedro Fonseca
RIO DE JANEIRO (Reuters) - Uma rebelião em um presídio de Manaus decorrente de uma briga de facções deixou 56 mortos, disseram nesta segunda-feira autoridades do Estado do Amazonas, no pior episódio de violência no superlotado sistema penitenciário do país em quase 25 anos.
O motim no Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj) teve início no domingo e só foi encerrado na manhã desta segunda, após uma negociação entre as autoridades e os presos que comandavam a rebelião, segundo o secretário de Segurança Pública do Estado, Sérgio Fontes.
"Essa briga de facção gerou uma quantidade grande de mortos", disse o secretário em entrevista coletiva no Centro Integrado de Comando e Controle, em Manaus.
O motim começou no domingo à noite e foi controlado por volta das 7h da manhã desta segunda, segundo o secretário. De acordo com Fontes, não houve invasão do Compaj por parte das forças de segurança do Estado por temores das possíveis consequências.
"A opção de invasão não foi considerada viável, até porque as consequências seriam imprevisíveis, então nós optamos pela negociação", afirmou. "Isso não quer dizer que não vai haver responsabilização. Obviamente os presos que cometeram os assassinatos serão responsabilizados".
Comunicado da Secretaria de Comunicação Social do Estado do Amazonas mais tarde informou que foi criada uma força-tarefa para investigar o motim e seus responsáveis.
"O objetivo também é identificar os líderes do movimento no dia 1º de janeiro e responsabilizá-los criminalmente", diz o comunicado.
Um vídeo publicado no site do jornal local Em Tempo mostrou as imagens de diversos corpos ensanguentados e desmembrados em cima uns dos outros no chão do presídio.
De acordo com o secretário de Administração Penitenciária do Amazonas, Pedro Florêncio, o complexo penitenciário tinha cerca de 2.230 detentos, apesar de ter capacidade para apenas 590, segundo dados da Secretaria de Segurança.
“Essa rixa entre organizações criminosas acontece em todo o Brasil, em todas as unidades prisionais... eclodiu hoje com essa vingança”, afirmou Florêncio.
A rebelião em Manaus foi a mais violenta desde a rebelião no Carandiru, em São Paulo, em 1992, que terminou com 111 presos mortos, quase todos em decorrência de uma invasão da polícia para retomar o local.
FUGA
Segundo o Comitê de Gerenciamento de Crise do Sistema de Segurança Pública, 112 presos fugiram do Compaj com o motim, além de 72 do Instituto Penal Antônio Trindade (Ipat). Até as 17h desta segunda-feira, 40 tinham sido recapturados.
A Secretaria de Comunicação do Estado informou que nesta segunda, internos do Ipat realizaram um "batidão de grade", que foi contornado logo em seguida pela direção da unidade, e no Centro de Detenção Provisória Masculino (CDPM) internos alojados em um dos pavilhões tentaram fugir, sendo impedidos pela Polícia Militar.
Também nesta segunda-feira, o Ministério da Justiça afirmou em nota que o ministro Alexandre de Moraes colocou à disposição das autoridades amazonenses a possibilidade de transferências de presos para presídios federais, além do envio ao Estado da Força Nacional.
Diversas rebeliões têm sido registradas em cadeias do país nos últimos anos, em meio a denúncias de entidades de direitos humanos sobre a superlotação e falta de funcionários suficientes nos presídios.
A ONG de direitos humanos Human Rights Watch pediu que autoridades brasileiras conduzam uma reforma no sistema prisional, considerado pela entidade como “um desastre de direitos humanos”.
Na semana passada, o governo federal anunciou o repasse aos Estados de 1,2 bilhão de reais, a maior parte destinada à construção de penitenciárias e melhoria da infraestrutura e serviços do sistema.
(Reportagem adicional de Alonso Soto, em Brasília)