Por Kristina Cooke e Mica Rosenberg
(Reuters) - Em meados de agosto, Ahmad recebeu uma ligação urgente de seu sobrinho, Zia, pedindo que ele fosse imediatamente ao aeroporto de Cabul para tentar embarcar em um vôo de retirada.
Membros do Taliban haviam passado na casa de Ahmad na capital procurando por Zia, que havia trabalhado com o Exército norte-americano no Afeganistão. Eles também queriam que Ahmad, que não estava em casa no momento, se apresentasse na delegacia, contou Zia.
Ahmad, de 43 anos, temeu ser preso ou executado por conta do envolvimento de seu sobrinho com as forças militares dos EUA, que saíram o país nesta semana em uma retirada caótica, encerrando formalmente uma guerra que durou 20 anos.
Ahmad foi ao aeroporto com sua esposa e seis filhos, mas se separou deles no meio da multidão nos portões de entrada, disse. Ele mostrou aos oficiais uma foto do green card de seu sobrinho em seu telefone e disse que ele era um membro de sua família.
Aquilo foi o suficiente para que ele conseguisse --sozinho-- embarcar em um avião com destino ao Catar, um aliado dos norte-americanos no Golfo Árabe, contou.
Após a correria para retirar os afegãos mais vulneráveis, milhares de pessoas, algumas delas com documentos pendentes em pedidos de vistos para os Estados Unidos, outros em famílias com status diferentes de imigração, estão agora esperando em "pontos de transição" em outros países.
Os hubs incluem bases militares dos EUA no Catar, Alemanha e Itália, onde os afegãos precisam superar obstáculos burocráticos de imigração para eventualmente poderem entrar nos Estados Unidos.
"Eu estou muito perturbado por tê-los deixado", disse Ahmad pelo telefone, falando através de um intérprete sobre sua esposa, cinco filhas e filho de 2 anos de idade, que agora estão foragidos. Ahmad falou sob a condição de ser identificado apenas por seu primeiro nome para proteger sua família.
O general norte-americano Mark Milley, chefe do Estado Maior Conjunto, afirmou na quarta-feira que há 43 mil pessoas retiradas em nove países na Europa e no Oriente Médio, e cerca de 20 mil afegãos em oito bases militares nos Estados Unidos.
(Reportagem de Mica Rosenberg em Nova York e Kristina Cooke em San Francisco)