Por Sonia Elks
(Thomson Reuters Foundation) - Mais de 500 supostas vítimas de escravidão foram mantidas pelas autoridades britânicas em centros de detenção de imigrantes no ano passado, segundo dados oficiais divulgados nesta terça-feira, o que especialistas dizem mostrar que sobreviventes estão sendo tratados como criminosos, e não como vítimas.
As autoridades imigratórias não estão amparando adequadamente quem escapa da escravidão e correm o risco de agravar seu trauma ao prendê-los, revelou um relatório da After Exploitation, que se valeu da Lei de Liberdade de Informação para solicitar e obter os dados.
"Com muita frequência, vítimas do tráfico são vistas como transgressores da imigração, e não como vítimas", explicou Pierre Makhlouf, diretor-assistente da instituição de caridade Bail for Immigration Detainees, ao comentar o relatório.
O Ministério do Interior do Reino Unido disse que ninguém que disse ter sido vítima do tráfico será exortado a deixar o país enquanto sua reivindicação está sendo analisada e que a condição de uma vítima é levada em conta quando a imigração julga seu caso.
"A detenção é uma parte importante do sistema imigratório – mas deve ser justa, digna e proteger os mais vulneráveis", disse uma porta-voz à Thomson Reuters Foundation.
"Fizemos melhorias significativas em nossa abordagem nos últimos anos, mas continuamos comprometidos a ir além".
As pessoas que são reconhecidas como vítimas prováveis da escravidão moderna têm direito a um pacote de apoio, que inclui moradia, aconselhamento e alguma ajuda de subsistência enquanto seus casos são estudados, conforme o esquema Mecanismo Nacional de Encaminhamento (NRM).
Mas as vítimas do tráfico não têm nenhum direito automático de permanecer no Reino Unido e podem ser detidas em algumas circunstâncias.
Segundo o NRM, 507 pessoas foram reconhecidas como vítimas prováveis de escravidão ou antes de serem detidas pela primeira vez ou durante sua detenção em 2018, segundo os dados.
Ao todo, 2.726 foram reconhecidas como vítimas prováveis de escravidão em 2017, os dados oficiais mais recentes disponíveis – o que sugere que até 20% delas foram detidas devido às regras de imigração em algum momento, dizem os autores do estudo.
As instituições de caridade que prestam assistência em centros de detenção relatam que as pessoas vulneráveis muitas vezes carecem de acesso a cuidados de saúde, apoio de saúde mental e serviços legais, disse o relatório, o que sujeita as vítimas de escravidão ao risco de danos ainda maiores.