Por Matt Spetalnick e Jason Szep
WASHINGTON (Reuters) - Uma investigação do governo dos Estados Unidos descobriu que militares de Mianmar promoveram uma campanha planejada e coordenada de assassinatos e estupros em massa, além de outras atrocidades, contra a minoria muçulmana rohingya do país do sudeste asiático.
O relatório do Departamento de Estado, analisado pela Reuters antes de sua publicação esperada para segunda-feira, pode ser usado para justificar novas sanções dos Estados Unidos ou outras medidas punitivas contra autoridades de Mianmar, disseram autoridades norte-americanas.
O documento, no entanto, não descreve a repressão como genocídio ou como crime contra a humanidade.
As descobertas são resultado de mais de mil entrevistas com homens e mulheres rohingyas em campos de refugiados no país vizinho Bangladesh, para onde quase 700 mil rohingyas fugiram após a campanha militar no ano passado no Estado de Rakhine em Mianmar.
"O estudo revela que a violência recente no Estado de Rakhine foi extrema, generalizada, em larga escala e aparentemente direcionada tanto a aterrorizar a população quanto a forçar a retirada de residentes da etnia rohingya", diz o relatório de 20 páginas. "O escopo e a escala das operações militares indicam que elas foram bem planejadas e coordenadas".
Os sobreviventes descreveram em detalhes devastadores o que haviam testemunhado, incluindo soldados matando bebês e crianças pequenas, atirando em homens desarmados, e vítimas sendo enterradas vivas ou jogadas em valas ou covas coletivas. Eles descreveram agressões sexuais e estupros de mulheres rohingyas conduzidos por militares de Mianmar, muitas vezes em público.
Uma testemunha descreveu quatro meninas rohingyas que foram sequestradas, amarradas com cordas e estupradas por três dias. Elas foram deixadas sangrando muito e "quase mortas", disse, de acordo com o relatório.
Grupos de direitos humanos e ativistas rohingyas dizem que o número de mortos chega a milhares. A operação militar teria sido uma reação a ataques de insurgentes muçulmanos rohingyas contra forças de Segurança no Estado de Rakhine em agosto de 2017.
Os resultados da investigação dos Estados Unidos foram publicados quase um mês depois de uma equipe de investigadores da ONU emitir seu próprio relatório acusando os militares de Mianmar de atuarem com "intenções genocidas" e pedindo que a liderança do país e cinco generais sejam processados por terem orquestrado os mais graves crimes de acordo com as leis internacionais.
Os militares de maioria budista de Mianmar negam as acusações de limpeza étnica e dizem que suas ações eram parte de uma luta contra o terrorismo.
Um funcionário de alto escalão do Departamento de Estado disse que o objetivo da investigação norte-americana não é determinar genocídio, mas sim documentar as atrocidades para orientar políticas futuras que visam responsabilizar os perpetradores.