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Rússia acusa chefe mercenário de motim armado depois de ele prometer punir altos escalões

Publicado 23.06.2023, 19:19
© Reuters. Yevgeny Prigozhin , chefe do Wagner
08/04/2023
REUTERS/Yulia Morozova

Por Andrew Osborn

LONDRES (Reuters) - A Rússia acusou o chefe mercenário Yevgeny Prigozhin de convocar um motim armado nesta sexta-feira depois de alegar, sem fornecer provas, que a liderança militar matou um grande número de seus combatentes em um ataque aéreo e jurou puni-los.

O impasse, cujos detalhes ainda não estão claros, parecia ser a maior crise doméstica que o presidente Vladimir Putin enfrenta desde que enviou milhares de soldados à Ucrânia em fevereiro do ano passado, no que chamou de "uma operação militar especial".

Com o impasse de longa data entre Prigozhin e o Ministério da Defesa parecendo chegar a um desenlace, o ministério emitiu um comunicado afirmando que as acusações de Prigozhin "não eram verdadeiras e são uma provocação informativa".

Prigozhin disse que suas ações não foram um golpe militar. Mas em uma série frenética de mensagens de áudio, nas quais o som de sua voz às vezes variava e não podia ser verificado independentemente, ele parecia sugerir que sua milícia de 25.000 homens estava a caminho para derrubar a liderança do Ministério da Defesa em Moscou.

Ele disse: "Aqueles que destruíram nossos rapazes, que destruíram a vida de muitas dezenas de milhares de soldados russos, serão punidos. Peço que ninguém ofereça resistência".

"Somos 25.000 e vamos descobrir por que o caos está acontecendo no país", disse ele, prometendo enfrentar quaisquer postos de controle ou forças aéreas que estivessem no caminho do Wagner.

"Vamos considerar qualquer um que tente resistir a uma ameaça e destruí-los rapidamente", disse ele.

Já no sábado (horário russo), Prigozhin, disse que seus homens cruzaram a fronteira da Ucrânia para a Rússia e estavam prontos para ir "até o fim" contra os militares russos.

Os combatentes do Wagner entraram na cidade de Rostov, no sul da Rússia, disse Prigozhin em uma gravação de áudio postada no Telegram.

A segurança estava sendo reforçada em Moscou, disse a agência de notícias Tass, com foco no que chamou de locais governamentais e infraestruturas mais importantes da capital.

O serviço de segurança da Rússia FSB disse que abriu um processo criminal contra ele por convocar um motim armado, um crime passível de punição com até 20 anos de prisão.

"As declarações de Prigozhin são de fato apelos para o início de um conflito civil armado em território russo e suas ações são uma 'punhalada nas costas' de militares russos que lutam contra as forças ucranianas pró-fascistas", disse o FSB.

"Pedimos aos ... combatentes que não cometam erros irreparáveis, parem quaisquer ações de força contra o povo russo, não cumpram as ordens criminosas e traiçoeiras de Prigozhin, tomem medidas para detê-lo."

O procurador-geral da Rússia, Igor Krasnov, informou Putin sobre um processo criminal acusando Prigozhin de motim, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, no início do sábado (horário russo).

O general do Exército Vladimir Alekseyev emitiu um apelo em vídeo no qual pedia a Prigozhin que reconsiderasse suas ações.

"Apenas o presidente tem o direito de nomear a liderança máxima das Forças Armadas, e vocês estão tentando usurpar sua autoridade", disse.

O general Sergei Surovikin, vice-comandante das forças russas na Ucrânia a quem Prigozhin elogiou no passado, em um vídeo separado instou o Wagner a "parar".

"O inimigo está apenas esperando que nossa situação política interna se deteriore", disse Surovikin.

Prigozhin, cujos frequentes discursos nas redes sociais desmentem seu papel limitado na guerra como chefe da milícia privada Wagner, há meses acusa abertamente o ministro da Defesa, Sergei Shoigu, e o principal general da Rússia, Valery Gerasimov, de incompetência e de negar munição e suporte às suas forças.

Um vídeo não verificado postado em um canal do Telegram próximo do grupo Wagner mostrou uma cena em uma floresta com pequenos incêndios e árvores que pareciam ter sido quebradas à força. Parecia haver um corpo, mas nenhuma evidência direta de qualquer ataque.

Trazia a legenda: "Um ataque com míssil foi lançado nos acampamentos da CMP (Companhia Militar Privada) Wagner. Muitas vítimas. Segundo testemunhas oculares, o ataque foi desferido pela retaguarda, ou seja, foi desferido pelos militares do Ministério da Defesa Russo."

Prigozhin tem tentado explorar seu sucesso no campo de batalha -- obtido a um enorme custo humano -- para criticar Moscou publicamente com aparente impunidade.

Mas nesta sexta-feira ele descartou pela primeira vez as principais justificativas de Putin para invadir a Ucrânia em 24 de fevereiro do ano passado e disse que elas se baseavam em mentiras inventadas pelos altos escalões do Exército.

"A guerra era necessária... para que (o ministro da Defesa Sergei) Shoigu pudesse se tornar um marechal... para que ele pudesse conseguir uma segunda medalha de 'Herói' (da Rússia)", disse Prigozhin em um vídeo. "A guerra não era necessária para desmilitarizar ou desnazificar a Ucrânia."

Marat Gabidullin, um ex-comandante de Wagner que se mudou para a França quando a Rússia invadiu a Ucrânia, disse à Reuters que os combatentes do Wagner provavelmente ficarão ao lado de Prigozhin.

© Reuters. Yevgeny Prigozhin , chefe do Wagner
08/04/2023
REUTERS/Yulia Morozova

"Há muito tempo desprezamos o Exército... É claro que eles o apoiam, ele é o líder deles", disse Gabidullin.

"Eles não hesitarão (em lutar contra o Exército), se alguém ficar em seu caminho."

(Reportagem da Reuters)

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