Por John Davison e Laila Bassam
DAMASCO (Reuters) - Os cidadãos da Síria votaram nesta quarta-feira em uma eleição parlamentar realizada em áreas controladas pelo governo do país, o que classificaram como uma demonstração de apoio ao presidente sírio, Bashar al-Assad, enquanto adversários e potências ocidentais repudiaram a votação, vista por eles como ilegítima.
A eleição está acontecendo independentemente de um processo de paz liderado pela Organização das Nações Unidas (ONU), cujo objetivo é pôr fim à guerra civil de cinco anos. As conversas de paz devem ser retomadas em Genebra nesta quarta-feira em meio a um recrudescimento nos combates que tem ofuscado as perspectivas já sombrias de uma solução diplomática.
O governo afirma que o pleito está sendo conduzido de acordo com a Constituição, uma visão ecoada por seus aliados russos. Já a oposição diz que a eleição não faz sentido, e Grã-Bretanha e França a descartaram por ser uma "farsa" e uma "fraude".
A votação irá eleger 250 membros do Parlamento, que não tem nenhum poder real no sistema presidencialista da Síria. O Estado está incentivando a ida às urnas com o slogan "Seu voto fortalece sua determinação".
"Estamos votando em nome do povo sírio e em nome de Assad. Assad já é forte, mas estas eleições mostram que o povo o apoia e o fortalece", disse Hadi Jumaa, estudante de 19 anos, enquanto depositava sua cédula em uma universidade da capital.
Dezenas de pessoas se enfileiravam em uma seção eleitoral onde se via um retrato de Assad pendurado na parede. Do lado de fora, algumas dançavam.
Com sua esposa, Asma, ao lado enquanto ia votar em Damasco, um Assad sorridente disse à televisão estatal que o terrorismo conseguiu destruir grande parte da infraestrutura da Síria, mas não a "estrutura social, a identidade nacional" do país. Ele ainda afirmou ser a primeira vez que um presidente participa de eleições parlamentares.
"Estas eleições não significam nada", disse por sua vez Asaad al-Zoubi, negociador-chefe do principal organismo opositor, o Conselho de Altas Negociações. "Elas são ilegítimas – teatro em nome da procrastinação, teatro através do qual o regime está tentando se conceder alguma legitimidade".
O conflito já matou mais de 250 mil pessoas e criou milhões de refugiados, dividindo o país em uma colcha de retalhos de áreas comandadas pelo governo, por uma gama de rebeldes, uma poderosa milícia curda e pelo grupo Estado Islâmico. O governo vê todos os grupos que o combatem como terroristas.
Como a legislatura é eleita a cada quatro anos, está é a segunda votação do tipo realizada por Damasco em tempos de guerra. Assad foi reeleito como chefe de Estado em uma eleição presidencial em 2014.
(Reportagem adicional de Suleiman al-Khalidi, em Amã, e Tom Perry e Angus McDowall, em Beirute)