KARANG JATI, Indonésia (Reuters) - Em uma quadra de esportes seca e empoeirada no centro de Java, na Indonésia, homens vestidos como guerreiros tradicionais se revezam para lutar com paus de madeira, enquanto as mulheres da aldeia se juntam ao redor, cantando: "Todos os agricultores, rezemos para que a chuva venha e leve nossa tristeza para longe".
Como em muitas partes do Java, a principal ilha de cultivo de arroz da Indonésia, as chuvas sazonais estão chegando tarde a Karang Jati. Uma seca causada pelo padrão climático El Niño, que os cientistas dizem que pode ser a pior já registrada, significa que os campos estão sem cultivo semanas depois de que normalmente estariam com plantações. Por isso, os moradores voltaram-se para um ritual para trazer a chuva, para apressar a época de plantio.
Quebras de safra provocadas por uma seca do El Niño pressagiam mais problemas para a maior economia do Sudeste Asiático, que já está crescendo em seu ritmo mais lento em seis anos, cortando os rendimentos, estimulando a inflação e empurrar mais pessoas para a pobreza.
Tudo isso aumenta a pressão sobre Joko Widodo, primeiro presidente da Indonésia com origem humilde, logo depois da crise da névoa causada pelo desmatamento de florestas. Widodo fez da redução da pobreza uma prioridade, mas a viu aumentar por todo esse arquipélago de 250 milhões de pessoas desde que assumiu o cargo há um ano.
O número de pessoas oficialmente classificadas como pobres, na verdade, aumentou nos primeiros seis meses de sua presidência, passando de 27,7 milhões em setembro de 2014 para 28,6 milhões em março.
Vinte das 34 províncias da Indonésia são atualmente afetadas por uma grave seca, de acordo com a agência de meteorologia.
O Banco Mundial diz que, se houver um grave El Niño este ano, a produção de arroz cairá em 2,1 milhões de toneladas, ou 2,9 por cento, e os preços do produto vão subir 10,2 por cento.
Esse aumento vai afetar mais os pobres, porque eles gastam uma maior parte de sua renda em alimentos.
"Rendimentos agrícolas reduzidos e preços mais altos poderão ser devastadores para as famílias pobres", disse o banco em um relatório, acrescentando que o país poderá precisar importar arroz se o El Niño se intensificar.
(Reportagem adicional de Heru Asprihanto, Quincy de Neve e Arzia Tivany Wargadiredja em Jacarta)