Por Julia Edwards Ainsley e Richard Cowan
WASHINGTON (Reuters) - O secretário da Justiça dos Estados Unidos, Jeff Sessions, disse nesta quinta-feira que se afastará de qualquer investigação sobre a suposta intromissão russa na eleição presidencial de 2016, pois ele estava envolvido com a campanha do presidente Donald Trump.
No entanto, Sessions, que foi senador por muito tempo antes de comandar o Departamento de Justiça, disse que não fez nada errado quando não revelou durante sabatina no Senado que havia se reunido no ano passado com o embaixador da Rússia. Ele disse que participou dos encontros na condição de senador, e não assessor de campanha.
"Eu me afasto dos temas relacionados à campanha de Trump”, disse Sessions numa entrevista à imprensa organizada de forma apressada depois que colegas republicanos seus no Congresso pediram para que ele tomasse tal media, e democratas insistiram para que ele renunciasse ao cargo.
Sessions afirmou que estava avaliando tomar a atitude --abdicar de qualquer papel nas investigações-- antes mesmo do último desdobramento da polêmica sobre os laços entre pessoas ligadas a Trump e a Rússia, que tem marcado os primeiros dias do governo.
O movimento significa que Sessions, um membro poderoso do círculo próximo de Trump, não será informado sobre os detalhes da investigação. Se o FBI decidir avançar com acusações, Sessions não estaria em posição de avaliar se o Departamento de Justiça deveria assumir o caso ou não.
A controvérsia surge quando Trump e os republicanos que controlam o Congresso estão tentando deixar para trás erros iniciais da administração e se concentrar em questões importantes para eles, incluindo imigração, cortes de impostos e revogação da lei de saúde Obamacare.
Agências de inteligência norte-americanas concluíram no ano passado que a Rússia hackeou e vazou emails democratas durante a campanha eleitoral como parte de um esforço para favorecer Trump. O Kremlin nega as alegações.
Durante a sua sessão de confirmação no Senado em janeiro, Sessions, respondendo a uma pergunta do senador democrata Al Franken, disse que ele não havia tido “comunicações com os russos” durante a campanha presidencial.
No entanto, na quarta-feira à noite, o Washington Post revelou que Sessions, que foi um importante assessor da campanha de Trump, recebeu o embaixador russo Sergei Kislyak no seu gabinete no Senado em setembro.
O outro encontro foi em julho num evento da Fundação Heritage, ao qual 50 embaixadores compareceram, durante a Convenção Nacional Republicana, segundo o jornal.
Sessions declarou que havia sido “honesto e correto” na sua resposta a Franken, estabelecendo uma distinção entre o seu papel como senador e a sua função na campanha.
Antes da entrevista à imprensa, Trump afirmou que tinha confiança “total” em Sessions. Perguntado se Sessions deveria se afastar das investigações, Trump disse a jornalistas: “Eu acho que não”.
Trump defendeu de forma frequente durante a campanha relações melhores com a Rússia, provocando críticas dos democratas e de alguns republicanos.
As relações com os russos se tornaram bastante desgastadas nos últimos anos por conta da interferência militar de Moscou na Ucrânia, do apoio militar ao presidente da Síria, Bashar al-Assad, e da intolerância do presidente Vladimir Putin com opositores.
(Reportagem adicional de Doina Chiacu, Ayesha Rascoe, Steve Holland, Julia Edwards Ainsely, Patricia Zengerle e John Walcott)