Por Vivian Sequera
CARACAS (Reuters) - Os serviços de entrega se tornaram uma das poucas oportunidades de trabalho para os venezuelanos submetidos a uma quarentena do coronavírus em um país que já sofre com recessão, hiperinflação e escassez de combustível.
De comerciantes que antes vendiam mercadorias em lojas a ex-taxistas que não têm mais passageiros, cidadãos desesperados para colocar comida na mesa estão entregando de tudo, de carne e legumes a ração para cachorro e itens de decoração de interiores.
E, ao contrário das pessoas da maioria dos países, os venezuelanos que fazem entregas têm que lutar com a falta crônica de gasolina, o que pode exigir horas em filas e, em alguns casos, levaram alguns trabalhadores a trocar motocicletas e carros por bicicletas.
"Fiquei sem emprego por causa da quarentena", contou Jesús Villamizar, de 43 anos, condutor de mototáxi que na terça-feira começou a fazer entregas para uma loja de departamentos que também fornece produtos alimentícios. "Tenho que conseguir comida para o lar".
Pai de três filhos, Villamizar disse que precisa ganhar cerca de 1 milhão de bolívares (7,50 dólares) por dia para sustentar a família em um nação com uma inflação anual de 3.365%.
A associação comercial venezuelana Consecomercio, que representa cerca de 15 mil negócios, disse que não tem uma estimativa de quantos pontos comerciais começaram a usar serviços de entrega para substituir os postos de vendedores perdidos na quarentena.
O presidente da Consecomercio, Felipe Capozzolo, disse em uma entrevista que tais serviços estão disponíveis somente para "dois ou três por cento da população", porque os produtos entregues em casa tendem a ser muito mais caros do que aquilo que o consumidor médio pode pagar.
Em Valência, cidade do norte do país, José Luis Ortiz começou a fazer compras para amigos e a entregar os produtos em suas casas para compensar a renda perdida depois que sua loja de equipamentos eletrônicos fechou por causa da quarentena.
"Tive que inventar algo para sobreviver", disse Ortiz, de 37 anos.
Sergio dos Santos, dono de uma lanchonete que serve hambúrguer e cachorro-quente em Bolívar, Estado do sudeste, disse que as entregas domiciliares salvaram seu negócio da falência, embora poucos usassem o serviço antes da quarentena.
"Estamos vivendo de delivery", disse Santos, de 45 anos, cujos motoristas cobram de dois a cinco dólares por viagem.
((Tradução Redação Rio de Janeiro; 55 21 2223-7128))
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