Por Rodrigo De Miguel
MADRI (Reuters) - O governo socialista da Espanha pode perder o controle de um bastião do sul após uma eleição regional na qual um partido de extrema-direita conquistou assentos pela primeira vez desde que o país emergiu de uma ditadura fascista mais de 40 anos atrás.
As conversas sobre uma coalizão já começaram nesta segunda-feira na Andaluzia, já que nenhum partido conseguiu votos suficientes para governar sozinho na região, que é a mais populosa e uma das mais pobres do país.
Os socialistas ficaram em primeiro no domingo, com 33 das 109 cadeiras do Parlamento, mas sua incapacidade de conseguir uma vitória clara em uma região em que dominavam deve provocar clamores para que o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, convoque uma votação nacional antes de 2020.
O governo de minoria de Sánchez tem tido dificuldade para obter apoio suficiente para aprovar qualquer lei relevante desde que tomou posse em junho.
O partido de extrema-direita Vox capitalizou o receio de a Espanha ser dividida por uma iniciativa separatista da Catalunha e o medo despertado pela imigração ilegal da África e obteve 12 cadeiras, mais do que o esperado. A Espanha não teve nenhum movimento de extrema-direita expressivo nos últimos anos, mas os avanços do Vox, fundado cinco anos atrás, podem sinalizar o início de uma onda de extrema-direita semelhante às vistas em outras partes da Europa.
"A ultra-direita está aqui. A Espanha não é mais uma exceção", disse o jornalista Luis Barbero em um artigo de opinião no jornal El País. Este "talvez seja o maior sinal de que a inquietação com o tratamento da crise catalã é maior do que se pensava".
Após a eleição o partido pró-mercado Ciudadanos, a sigla de centro-direita Partido Popular (PP) e o Vox cogitaram uma aliança provavelmente inviável, enquanto os socialistas e o Adelante Andaluzia, aliado do Podemos, estudaram opções à esquerda.
Juan Marín, candidato andaluz do Ciudadanos, rejeitou uma coalizão com os socialistas e disse na rádio nacional que se ofecererá para liderar a região agora que seu partido ficou em terceiro com 18 por cento dos votos.
O PP conquistou 26 assentos no domingo, e o Adelante Andaluzia, de extrema-esquerda, outros 17, tornando uma maioria de 55 vagas impossível para qualquer sigla isolada sem um acordo.
Os socialistas descartaram dar a liderança ao Ciudadanos, ideia cogitada pelo secretário-geral destes últimos, e os acusaram de tentar evitar uma aliança politicamente indigesta com o Vox.
(Reportagem adicional de Jose Elias Rodriguez e Paul Day)