Solução de dois Estados para conflito no Oriente Médio corre sério risco, diz Kerry

Publicado 28.12.2016, 17:44
© Reuters. Secretário de Estado dos EUA, John Kerry

Por Lesley Wroughton e Yeganeh Torbati

WASHINGTON (Reuters) - O secretário de Estado norte-americano, John Kerry, alertou nesta quarta-feira que o futuro de uma solução de dois Estados para o conflito israelo-palestino está em perigo, dizendo que os Estados Unidos não podem ficar em silêncio conforme a violência e a construção de assentamentos israelenses colocam em risco as chances de paz.

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, reagiu ao discurso acusando Kerry de tendencioso contra o Estado judeu.

Em um discurso feito semanas antes de a administração Obama passar o poder para o presidente eleito Donald Trump, Kerry disse que Israel "nunca terá uma paz verdadeira" com o mundo árabe se não chegar a um acordo que se baseie em Estados próprios para israelenses e palestinos.

    "Apesar de nossos melhores esforços ao longo dos anos, a solução de dois Estado está agora sob sério risco", disse Kerry em discurso no Departamento de Estado. "Não podemos, em sã consciência, não fazer nada, e não dizer nada, quando vemos a esperança da paz desvanecer".

    "A verdade é que as tendências locais --a violência, o terrorismo, a incitação, a expansão dos assentamentos e uma ocupação aparentemente sem fim-- estão destruindo a esperança de paz dos dois lados e cimentando cada vez mais uma realidade de um Estado irreversível que a maioria das pessoas de fato não quer."

    Kerry criticou a violência palestina, que disse incluir "centenas de ataques terroristas no último ano".

    Suas palavras de despedida dificilmente irão mudar alguma coisa entre israelenses e palestinos nos territórios ou salvar o histórico de esforços de paz malfadados da gestão Obama no Oriente Médio.

Em um comunicado divulgado em inglês por seu gabinete, Netanyahu disse que Kerry "obsessivamente lidou com assentamentos", que os Estados Unidos se opõem fortemente, e criticou o secretário de Estado por apenas tocar a "raiz do conflito --oposição palestina a um Estado judeu quaisquer que sejam as fronteiras".

Os israelenses já estão mirando um horizonte para além de Obama e esperam receber um tratamento mais favorável de Trump, que toma posse no dia 20 de janeiro. O republicano usou sua conta de Twitter nesta quarta-feira para criticar o governo Obama, incluindo sua votação no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) e o acordo nuclear que firmou com o Irã no ano passado.

    Trump fez lobby contra a resolução da ONU abertamente, e se espera que vete quaisquer outras que sejam consideradas anti-Israel.

© Reuters. Secretário de Estado dos EUA, John Kerry

    No discurso de 70 minutos, Kerry defendeu a decisão norte-americana de, abstendo-se, permitir a aprovação de uma resolução que exige o fim dos assentamentos israelenses, dizendo que ela teve como objetivo preservar a possibilidade de uma solução de dois Estados.

    Kerry endossou vigorosamente a medida da ONU e rejeitou a crítica segundo a qual "este voto abandona Israel".

    "Se tivéssemos vetado esta resolução no outro dia, os Estados Unidos estariam dando licença para a construção adicional e irrestrita de assentamentos à qual nos opomos fundamentalmente", disse Kerry. "Não é esta resolução que está isolando Israel, é a política permanente de construção de assentamentos que cria o risco de tornar a paz impossível".

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