Por Saleh Salem
RAFAH, Gaza (Reuters) - A estudante palestina Aseel Abu Haddaf deveria se formar na faculdade de medicina em Gaza este ano, mas, em vez disso, está vivendo em uma tenda, com sua casa e sua universidade em escombros devido a ataques aéreos israelenses, imaginando se uma dia conseguirá ser médica.
A guerra de Israel em Gaza, desencadeada após o ataque do Hamas em 7 de outubro que matou mais de 1.200 pessoas, destruiu qualquer vestígio de vida normal no pequeno e densamente povoado enclave e matou cerca de 25.000 palestinos, segundo autoridades de saúde locais.
Para estudantes como Abu Haddaf, o futuro é ainda mais incerto do que para a maioria. Ela não sabe se os anos difíceis de estudo contarão para alguma coisa ou se o que resta da universidade ainda tem o registro do seu progresso acadêmico.
“Medicina tem sido minha ambição desde que eu era jovem. Quando eu era criança, costumava me ver como médica por causa da situação que vivemos em Gaza”, disse Abu Haddaf, acrescentando que a devastação da guerra a deixou ainda mais determinada a atingir esse objetivo.
Ela estava no último dos seis anos do seu curso na Universidade Al-Azhar, na região sul da Cidade de Gaza, pronta para se formar no fim deste ano e começar a trabalhar como residente antes de se tornar uma médica com plenos direitos. Ela esperava ser cirurgiã um dia.
A cidade de Gaza está praticamente isolada do resto do enclave há semanas, após as forças israelenses cercarem-na durante sua primeira grande ofensiva no enclave, mas a enorme destruição tem se mostrado por vídeos, fotos e imagens de satélite.
Abu Haddaf não faz ideia do que aconteceu com seus professores, outros funcionários da universidade e estudantes. “Não há qualquer conexão. Eu não sei nada sobre eles, se estão vivos ou mortos”, disse, sobre os colegas de turma.
“Espero que voltemos aos nossos estudos, mesmo que seja em tendas, e que tenhamos acesso à equipe docente para que eles possam nos ensinar e nos ajudar a realizar nossos sonhos de nos tornarmos médicos”, disse.
VOLUNTÁRIA
A família Abu Haddaf vivia em Khan Younis, a maior cidade do sul de Gaza. Os ataques israelenses atingiram toda a faixa desde o começo da guerra, mas se intensificaram bastante em Khan Younis quando forças terrestres a invadiram neste ano.
A sua casa foi destruída e, como cerca de 85% dos moradores de Gaza, a família agora está desabrigada. Como muitos outros, eles estão em Rafah, junto à fronteira com o Egito e considerada relativamente mais segura dos bombardeios de Israel.
Abu Haddaf passa grande parte do dia limpando a tenda da família, lavando roupas, cozinhando o pouco de comida que consegue encontrar e executando as muitas tarefas difíceis que são necessárias em uma vida sem casa ou eletricidade.
Mas ela também se oferece às autoridades locais como voluntária para tarefas médicas na medida do possível para adquirir experiência prática em medicina, mas acha que esse é um substituto ruim para o treinamento universitário.
Gaza precisa de todos os médicos que conseguir. Dezenas de milhares de pessoas foram feridas pelo bombardeio de Israel, o enclave corre o risco de passar fome, de acordo com as projeções da ONU, e grande parte da população está cada vez mais ameaçada por doenças.
(Reportagem de Saleh Salem)