Por Horacio Soria, Miguel Lo Bianco e Javier Corbalan
BUENOS AIRES/SALTA, Argentina, 20 Mar (Reuters) - Um grande surto de dengue na Argentina caminha para bater recordes, refletindo uma preocupação mais ampla na América do Sul, onde o clima mais quente e úmido provocou um pico de casos.
Mais de 120.000 casos foram registrados até agora na Argentina na temporada 2023/24, a maior parte nos últimos dois meses. Isso a coloca muito à frente da temporada anterior, que já era a pior em registro.
“Estamos passando pelo pior surto de dengue da Argentina”, disse Mariana Manteca Acosta, diretora do Instituto Malbran e especialista em doenças infecciosas. “Há 200% mais casos do que na mesma época da temporada do ano passado”.
Sintomas da dengue incluem febre alta, dor de cabeça, vômito, irritações na pele e dores nos músculos e nas articulações que podem ser tão severas que a doença é chamada de febre “quebra-ossos”. Em alguns casos, pode causar uma febre hemorrágica mais grave, resultando em sangramento que pode levar à morte.
Houve 79 mortes até agora nesta temporada da Argentina, segundo os mais recentes dados do governo.
O vizinho Brasil também está lutando com um forte crescimento de casos, com a dengue se espalhando em regiões onde não era encontrada anteriormente.
A maioria dos casos geralmente acontece durante os últimos meses do verão e início do outono do hemisfério sul, de fevereiro a maio, quando o clima costuma ser quente e úmido. No entanto, neste ano, uma quantidade maior de casos foi observada no começo da temporada.
Nas primeiras dez semanas do ano calendário, houve cerca de 103.000 casos de dengue, de acordo com dados do governo argentino, mais de dez vezes os 8.343 casos registrados no mesmo período ano passado, quando o principal pico aconteceu mais tarde, em abril.
Valeria Medina, 36 anos, sendo tratada para dengue em um hospital na província de Salta, no noroeste da Argentina, disse que não houve conscientização suficiente sobre a doença e que algumas pessoas têm dificuldades para serem diagnosticadas e tratadas.
"É uma doença que, lá fora, as pessoas não levam muito em conta, mas é feia”, disse Medina.
O especialista em doenças infecciosas, Eduardo López, do Hospital Ricardo Gutiérrez, em Buenos Aires, disse que esta temporada quase certamente superará o ano anterior.
“Com as projeções atuais, vamos superar o ano passado”, afirmou. “Ainda temos todo o mês de abril, o resto de março e pelo menos 15 dias de maio. Então vamos exceder os 130.000 casos. Este ano será um recorde.”
A Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) emitiu um alerta no mês passado sobre o aumento de casos na região, após o último ano registrar o maior número de casos em décadas.