Por Sergei Karazy e Bogdan Basii
CHERNOBYL, Ucrânia, (Reuters) - Mais de três décadas depois de pairar com seu helicóptero sobre o vulcão radioativo que era o reator nuclear número quatro de Chernobyl, local do pior acidente nuclear da história, Mykola Volkozub lembra como temeu por sua vida.
Hoje com 87 anos, o piloto militar ucraniano voltou a Chernobyl no mês passado pela primeira vez desde o acidente de 1986 e relembrou como fez três voos sobre o reator para medir a temperatura e a composição dos gases em seu interior.
"Algumas pessoas podem dizer que não têm medo, mas ninguém não têm medo. A única coisa é que as pessoas percebem o medo de forma diferente."
"Uma pessoa congela de medo, outra é atiçada por ele. Eu tinha que fazê-lo (sobrevoar o reator). Sabia que era perigoso."
O acidente na então soviética Ucrânia foi causado por um teste de segurança fracassado que espalhou colunas de material nuclear por grande parte da Europa. Ele matou dezenas de pessoas em semanas e obrigou dezenas de milhares a deixarem os locais onde moravam. O saldo final de vítimas fatais de doenças relacionadas à radiação, como câncer, ainda é tema de debate.
Volkozub, que usou um colete de chumbo pesado para se proteger da radiação, recebeu uma medalha de "Herói da Ucrânia" por sua bravura. Apesar do colete, ao fazer três voos que duraram 19 minutos e 40 segundos no total, ele foi exposto a uma dose tão alta de radiação que alguns dosímetros enlouqueceram quando ele tentou medir seu grau de exposição.
O helicóptero MI-8 novo em folha que usou, e que foi equipado com placas de chumbo especiais no piso, também foi exposto à radiação e mais tarde abandonado em um cemitério de equipamento radioativo, sem fazer mais nenhum voo.
Volkozub, que apesar da idade ainda supervisiona pilotos de teste que trabalham para a Antonov, fabricante estatal ucraniana de aeronaves, disse ter se mantido calmo e calculista na ocasião, apesar do medo.
"Vinha me preparando", contou. "Foi um processo de preparação muito meticuloso. Fiz todos os cálculos para o helicóptero, seu peso etc. As interações entre os tripulantes também foram muito bem planejadas."
Ao ver o reator pela primeira vez em 33 anos, Volkozub disse não conseguir reconhecê-lo.
"Não tem nada em comum com o que era no passado. Foi devastado. Foi totalmente devastado. Havia um cano (apontando para o céu), e algumas partes (do reator) estavam simplesmente dependuradas", disse.
Hoje, o reator está coberto por uma enorme estrutura de confinamento que foi construída para cobrir um sarcófago envelhecido projetado para impedir o vazamento de radiação.