Por Nicolás Misculin
BUENOS AIRES (Reuters) - Milhares marcharam pela capital argentina nesta quarta-feira contra as medidas de austeridade do presidente Mauricio Macri, e o país ficou paralisado dos aeroportos aos portos de grãos, em função de uma greve geral em meio à crise que abala as aspirações de Macri à reeleição em outubro.
A greve, convocada pelos principais sindicatos do país, acontece no momento em que cai a popularidade de Macri nas pesquisas para as eleições presidenciais, enquanto os eleitores sofrem com a alta inflação, desemprego e a desvalorização do peso.
Sem transporte de passageiros, escolas ou trabalho em repartições públicas e bancos, muitas ruas de Buenos Aires estavam vazias antes das manifestações, que serão realizadas por alguns grupos que aderiram à medida de força convocada pela poderosa central sindical CGT.
Controlada pelo peronismo, atualmente na oposição, a CGT demanda que o governo imponha aumentos salariais que os equiparem à inflação alta – que chegou a cerca de 50% nos últimos 12 meses – e a redução de alguns impostos que afetam os trabalhadores.
Em um vídeo publicado online, a central disse que entrava em greve para forçar uma mudança na política governamental enquanto "a situação econômica e social piora dia após dia e a inflação destrói o poder de compra dos salários do povo".
Manifestantes passaram pelo centro de Buenos Aires portando bandeiras e faixas protestando contra as reformas de Macri, apoiadas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), e consideradas fundamentais pelo governo para reduzir o profundo déficit fiscal
"Chega de Macri e do FMI", diziam algumas das faixas.
"É difícil fazer com que os que nunca precisaram de nada entendam as necessidades do povo", disse o líder do sindicato dos caminhoneiros Hugo Moyano em uma entrevista coletiva na quarta-feira, em referência à riqueza pessoal do ex-empresário Macri.
As tarifas de serviços altas são outro alvo dos protestos, já que as fortes elevações registradas nos últimos anos, com as quais o governo tentou reduzir seu déficit, são uma das causas de a pobreza ter atingido 32% da população neste ano, segundo dados oficiais.
Macri almeja se manter na Presidência na eleição de outubro, mas a queda nas pesquisas provocada pela crise econômica mostra que será difícil. A chapa peronista encabeçada por Alberto Fernández com a ex-presidente Cristina Fernández de Kirchner como vice lidera na maior parte das sondagens.
Os aeroportos não estavam operando nesta quarta-feira por causa da greve, e não havia exportação de grãos a partir dos portos da área de Rosario, uma das regiões agroindustriais mais importantes do mundo.
Os efeitos da paralisação também serão sentidos no esporte: a final da Recopa Sul-Americana, que deveria ser disputada pelo local River Plate e pelos brasileiros do Athlético Paranaense, foi adiada para quinta-feira.
Uma estimativa do governo sugere que a greve custará à economia argentina mais de 40 bilhões de pesos (900 milhões de dólares).
"Estamos fartos de paralisações. É a quinta que este governo sofre", disse a ministra da Segurança Patricia Bullrich em uma rádio local na quarta-feira.