Por Doina Chiacu e Susan Heavey
WASHINGTON (Reuters) - O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, repudiou nesta quinta-feira a indicação de um conselheiro especial, feita pelo Departamento de Justiça, para investigar possíveis laços de sua campanha presidencial de 2016 com a Rússia, chamando-a de "a maior caça às bruxas" da história dos EUA.
Os comentários desafiadores de Trump no Twitter contrastaram com sua declaração comedida de quarta-feira à noite, depois que o ex-diretor do FBI Robert Mueller foi indicado como conselheiro especial, na qual disse que "uma investigação minuciosa irá confirmar o que já sabemos – não existe conluio entre a minha campanha e nenhuma entidade estrangeira".
O vice-secretário de Justiça, Rod Rosenstein, nomeou Mueller após uma sucessão de acontecimentos chocantes que agravaram questionamentos sobre uma suposta interferência russa na eleição e um possível conluio com a campanha de Trump.
Eles incluem o fato de Trump ter demitido o diretor do FBI, James Comey, de ter debatido informações confidenciais sobre o Estado Islâmico com o ministro russo das Relações Exteriores e relatos de que o presidente havia pressionado Comey para que este encerrasse uma investigação sobre seu ex-conselheiro de Segurança Nacional Michael Flynn.
Em seus tuítes, o republicano se queixou de um funcionário que ele mesmo indicou ter nomeado um conselheiro especial.
"Com todos os atos ilegais que aconteceram na campanha de (Hillary) Clinton e no governo de Obama, nunca se indicou um conselheiro especial!", escreveu, inicialmente errando a grafia da palavra 'conselheiro' ao se referir ao ex-presidente Barack Obama e à ex-candidata presidencial Hillary Clinton e se corrigindo mais tarde.
"Esta é a maior caça às bruxas de um político na história americana!", acrescentou Trump, que na quarta-feira disse em um discurso que "nenhum político da história" foi tratado pior ou mais injustamente do que ele tem sido.
O senador democrata Amy Klobuchar respondeu: "Esta é uma caça à verdade".
As ações norte-americanas subiram, já que dados econômicos auspiciosos encorajaram os investidores a voltarem ao mercado um dia depois de Wall Street testemunhar a maior venda em oito meses, causada pelos temores de que uma turbulência política possa minar iniciativas presidenciais como os cortes de impostos, que os investidores creem favorecer o crescimento econômico.
Rosenstein, o número 2 do Departamento de Justiça, escolheu
Mueller em meio a uma pressão crescente no Congresso por uma investigação independente que vá além de inquéritos já existentes da Polícia Federal dos EUA e do próprio Congresso sobre a questão russa.
Democratas e até correligionários republicanos de Trump elogiaram amplamente a indicação de Mueller, mas o líder democrata no Senado, Chuck Schumer, disse que mesmo assim Comey deveria comparecer diante de comitês congressionais que o convidaram a prestar depoimento.
Nancy Pelosi, a democrata mais graduada da Câmara dos Deputados dos EUA, disse que uma comissão independente para investigar a questão da Rússia ainda é necessária para evitar uma interferência da Casa Branca.
Um tema crucial que Mueller pode ter que abordar é se Trump cometeu uma obstrução da justiça, delito que poderia ser usado em uma eventual tentativa de pedir um impeachment contra o presidente no Congresso de maioria republicana.
A Rússia negou a conclusão de agências de inteligência norte-americanas de que o país interferiu na campanha eleitoral para tentar fazer a votação pender a favor de Trump. O presidente republicano tem mostrado irritação com a suposição de que a Rússia desempenhou algum papel em sua vitória eleitoral de novembro e vem negando qualquer conluio entre sua campanha e Moscou.
Flynn e outros assessores de campanha de Donald Trump mantiveram contato com autoridades da Rússia e outras com laços com o Kremlin através de ao menos 18 ligações e emails durante os últimos sete meses da corrida presidencial de 2016, noticiou a Reuters nesta quinta-feira.
(Reportagem adicional de Mark Hosenball, Susan Heavey, David Alexander e Amanda Becker)