Por Steve Holland e Yara Bayoumy
WASHINGTON (Reuters) - O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, abalou o acordo nuclear firmado com o Irã em 2015 nesta sexta-feira, desafiando outras potências mundiais, ao decidir não confirmar que Teerã está cumprindo o pacto e alertando que pode terminar cancelando-o.
Trump anunciou a grande mudança na política norte-americana em um discurso no qual detalhou uma abordagem mais agressiva com o Irã devido a seus programas nuclear e de mísseis balísticos e seu suposto apoio a grupos extremistas do Oriente Médio.
O presidente norte-americano acusou Teerã de "não estar no espírito" do pacto nuclear e disse que seu objetivo é fazer com que o regime jamais obtenha uma arma nuclear. Ele disse ainda que vai impor sanções à Guarda Revolucionária Islâmica do Irã e fez críticas violentas contra Teerã, que ele acusou de ações desestabilizadoras na Síria, no Iêmen e no Iraque.
"Não continuaremos por um caminho cuja conclusão previsível é mais violência, mais terror e a ameaça muito real de um surto nuclear no Irã", disse.
A decisão de Trump faz parte de sua estratégia "América Primeiro" para acordos internacionais que o levou a retirar os Estados Unidos do acordo climático de Paris e da Parceria Transpacífico e também a renegociar o Acordo de Livre Comércio da América do Norte com Canadá e México (Nafta).
A abordagem do líder norte-americano sobre o Irã irritou Teerã e colocou Washington em desacordo com outros signatários do acordo - Reino, França, Alemanha, Rússia, China e União Europeia - alguns dos quais se beneficiaram economicamente do comércio renovado com o Irã.
Respondendo a Trump, o presidente iraniano, Hassan Rouhani, disse na sexta-feira em discurso na televisão que Teerã estava comprometida com o acordo e acusou Trump de fazer acusações sem fundamento.
"A nação iraniana nunca se inclinou contra nenhuma pressão estrangeira", disse ele. "O Irã e o acordo estão mais fortes do que nunca."
Aliados europeus alertaram sobre um racha com os Estados Unidos sobre o acordo nuclear e dizem que colocá-lo no limbo como fez Trump mina a credibilidade dos EUA no exterior, especialmente porque inspetores internacionais dizem que o Irã está em conformidade com o acordo.
O chefe do órgão de vigilância atômica da ONU reiterou que o Irã estava sob o "regime de verificação nuclear mais robusto do mundo".
"Os compromissos relacionados com a energia nuclear assumidos pelo Irã no âmbito (do acordo) estão sendo implementados", disse Yukiya Amano, diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica.
CONGRESSO DECIDE
Embora Trump não tenha retirado os EUA do acordo, que visa a impedir que o Irã desenvolva uma bomba nuclear, ele deu 60 dias para o Congresso norte-americano decidir se retoma ou não as sanções econômicas contra Teerã que foram suspensas devido ao pacto.
Se o Congresso norte-americano ressuscitar as sanções, os EUA estariam violando os termos do pacto e este provavelmente desmoronaria. Se os parlamentares não fizerem nada, ele continua em vigor.
Trump alertou que se "não conseguirmos encontrar uma solução trabalhando com o Congresso e nossos aliados, o acordo será encerrado".
Também nesta sexta-feira o presidente republicano deu ao Departamento do Tesouro ampla autoridade para impor sanções econômicas à Guarda Revolucionária do Irã, ou entidades de sua propriedade, em resposta ao que Washington chamou de esforços para desestabilizar ou minar os adversários do regime no Oriente Médio.
REAÇÕES
A Rússia criticou a ameaça de encerrar o acordo nuclear com o Irã e a União Europeia defendeu o pacto, enquanto Israel e Arábia Saudita saudaram a posição de confronto dirigida a Teerã.
O ministro de Inteligência israelense descreveu o discurso de Trump como "muito significativo" e disse que pode levar à guerra, dadas as ameaças iranianas que o antecederam.
Em Bruxelas, a chefe da política externa da UE, Federica Mogherini, disse que Washington não poderia unilateralmente cancelar o acordo.
"Não podemos pagar como comunidade internacional para desmantelar um acordo nuclear que está funcionando", afirmou Federica, que presidiu as etapas finais das conversas sobre o acordo.
"Este acordo não é um acordo bilateral... A comunidade internacional, e a União Europeia com ela, indicou claramente que o acordo deve, e deverá, continuar a vigorar", disse a jornalistas.
Líderes da Grã-Bretanha, França e Alemanha divulgaram comunicado conjunto alertando os Estados Unidos contra a tomada de decisões que possam prejudicar o acordo nuclear com o Irã, como a volta de sanções.
(Reportagem adicional de Makini Brice, Patricia Zengerle, Jonathan Landay, Justin Mitchell, Tim (SA:TIMP3) Ahmann e Arshad Mohammed em Washington, Andrea Shalal em Berlim, Dmitry Solovyov em Moscou, Parisa Hafezi em Ancara e Dan Williams em Jerusalém)