WASHINGTON/JERUSALÉM (Reuters) - O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, reverteu de forma abrupta uma política de décadas dos EUA e reconheceu Jerusalém como capital de Israel, provocando a indignação de palestinos e desafiando alertas sobre distúrbios no Oriente Médio.
Elogiado por Israel, Trump afirmou em discurso na Casa Branca que o seu governo iniciaria o processo de transferência da embaixada norte-americana de Tel Aviv para Jerusalém, uma medida que deverá levar anos e que os seus antecessores evitaram tomar para que as tensões não aumentassem.
O status de Jerusalém, onde ficam locais sagrados para muçulmanos, judeus e cristãos, é um dos maiores obstáculos para um acordo de paz entre israelenses e palestinos.
A comunidade internacional não reconhece a soberania de Israel sobre a cidade inteira, acreditando que o status do lugar deve ser resolvido em negociações.
“Eu determinei que é hora de reconhecer oficialmente Jerusalém como capital de Israel”, disse Trump. “Enquanto presidentes anteriores fizeram do tema promessa importante de campanha, eles fracassaram em tomar a medida. Hoje, eu estou tomando.”
A decisão de Trump coloca sob risco o papel histórico dos EUA como mediador do conflito entre israelenses e palestinos e traz desgaste para as relações com aliados árabes dos quais Washington depende no esforço para se opor ao Irã e para combater militantes sunitas.
Israel considera a cidade a sua capital eterna e indivisível e quer todas as embaixadas lá. Os palestinos querem que a capital do seu Estado independente seja no leste da cidade, capturado por Israel na guerra de 1967 e então anexado, uma medida que nunca foi reconhecida internacionalmente.
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, celebrou o anúncio como um “marco histórico” e insistiu que outros países também mudassem as suas embaixadas para Jerusalém.
Netanyahu declarou que qualquer acordo de paz como os palestinos deve incluir Jerusalém como capital de Israel. Se isso significa a cidade inteira sob o controle israelense, a ideia não seria aceitável para os palestinos.
DECEPÇÃO PALESTINA
O presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, afirmou nesta quarta que a cidade é “a capital eterna do Estado Palestino”. Abbas disse que a decisão de Trump equivale aos EUA abdicarem do seu papel de mediador.
Os palestinos disseram que a iniciativa de Trump significa o “beijo da morte” para a solução dos dois Estados, proposta que prevê um Estado palestino no território que Israel tomou em 1967, ou seja, a Faixa de Gaza, a Cisjordânia e o leste de Jerusalém.
Nenhum outro país tem embaixada em Jerusalém. El Salvador e Costa Rica tinham suas representações lá, mas as transferiram para Tel Aviv em 2006, dizendo querer seguir as normas internacionais.
Com a decisão sobre Jerusalém, Trump cumpre uma promessa de campanha e vai agradar conservadores republicanos e evangélicos, grupos que formam uma parte considerável da sua base de apoio.
Outros benefícios políticos para ele com a medida não estão claros.
“Ele não pode esperar ficar inteiramente do lado de Israel na maior parte dos temas sensíveis e complexos do processo e ainda esperar que os palestinos o vejam como mediador honesto”, disse Daniel Kurtzer, ex-embaixador dos EUA em Israel.
“O seu desejo declarado de fazer o ‘acordo final’ é agora uma vítima da ingenuidade da sua própria política”, afirmou.
O papa Francisco pediu que o status quo de Jerusalém fosse respeitado, dizendo que uma nova tensão agravaria ainda mais os conflitos mundiais. China e Rússia também expressaram preocupação de que os planos pudessem agravar as hostilidades no Oriente Médio.
Centenas de manifestantes de reuniram do lado de fora do consulado dos EUA em Istambul por causa da decisão de Trump.
O presidente da França, Emmanuel Macron, disse que o anúncio de Trump era lamentável e que Paris não dá apoio à medida. O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, afirmou que não há alternativa à solução dos dois Estados. “Não há plano B.”
Trump declarou que a sua iniciativa não tinha como objetivo fazer a balança pesar para o lado de Israel, e que qualquer acordo envolvendo o futuro de Jerusalém deveria ser negociado entre as duas partes.
Buscando suavizar o golpe que o seu anúncio representa para os palestinos, ele insistiu que não está tomando posição sobre “qualquer tema relacionado ao status final, incluindo os limites específicos da soberania israelense em Jerusalém ou a resolução sobre as fronteiras em disputa”.
Trump não mencionou os assentamentos judaicos em territórios ocupados.
Ele disse que permanecia comprometido com a solução dos dois Estados se as partes a quisessem.
O presidente pediu que a região recebesse a sua mensagem com calma.
“Haverá claro desacordo e divergência em relação ao meu anúncio, mas estamos confiantes de que no final, trabalhando esses desacordos, vamos chegar a um ponto de maior entendimento e maior cooperação”, afirmou Trump.
Ele disse que a sua iniciativa reflete a realidade de Jerusalém como centro da fé judaica e o fato de a cidade ser o local do governo israelense.
(Reportagem adicional de Matt Spetalnick, Doina Chiacu, David Alexander em Washington, Ali Sawafta em Ramallah, e Ori Lewis em Jerusalém)