Por Liangping Gao e Andrea Shalal
PEQUIM/WASHINGTON (Reuters) - Viajantes se apressaram para remarcar voos e os mercados se estrerssaram nesta quinta-feira depois que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, impôs amplas restrições à chegada de viajantes da Europa, afetando empresas aéreas já atingidas e acentuando o alarme global com o coronavírus.
Mas a China, onde a doença surgiu, disse que sua epidemia atingiu o pico e que o surto mundial pode acabar até junho se outras nações adotarem medidas de contenção quase tão agressivas quanto as do governo comunista de Pequim.
Trump minimizou os riscos ao seu país durante a crise, mas como as epidemias estão se alastrando do Irã à Itália e à Espanha, limitou as viagens da Europa continental por 30 dias.
"Este é o esforço mais agressivo e abrangente da história moderna para confrontar um vírus estrangeiro", disse ele em um pronunciamento transmitido do Salão Oval no horário nobre da noite de quarta-feira.
Os mercados despencaram – as ações europeias atingiram seu menor valor em quase quatro anos e o petróleo também caiu. Os índices de ações dos EUA perderam outros 7% e desencadearam outra paralisação automática pouco depois da abertura do pregão.
O Banco Central Europeu aprovou novas medidas de estímulo, incluindo empréstimos ultra baratos, para ajudar a economia combalida da zona do euro, mas surpreendeu ao segurar as taxas de juros.
A medida de Trump também fez viajantes cansados e confusos correrem aos aeroportos para embarcar nos últimos voos para os EUA.
"Isso causou um pânico em massa", disse Anna Grace, estudante norte-americana de 20 anos da Universidade de Suffolk que fazia sua primeira viagem à Europa e correu para o aeroporto de Barajas, em Madri, às 5h para voltar para casa.
O surto está prejudicando a indústria, as viagens, o entretenimento e os esportes em todo o mundo, e criou dúvida até a respeito da Olimpíada de Tóquio.
Mas seu avanço a partir do epicentro na província chinesa de Hubei vem se desacelerando acentuadamente graças às restrições severas à circulação, o que incluiu a interdição da capital regional Wuhan.
Hubei só registrou oito infecções novas na quarta-feira, a primeira vez desde a irrupção do surto em que a província teve uma contagem diária de menos de 10 casos. Fora dela, a China continental só teve sete casos novos, todos vindos do exterior.
"O pico da epidemia passou na China", disse Mi Feng, porta-voz da Comissão Nacional de Saúde.
Agora a Organização Mundial de Saúde (OMS) descreve a crise como uma pandemia, o que significa que ela está se espalhando rapidamente pelo globo.
"Descrever isso como uma pandemia não significa que os países deveriam desistir", disse o chefe da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, a diplomatas em Genebra. "A ideia de que os países deveriam passar da contenção à mitigação é errada e perigosa".
A interdição de viagens inesperada de Trump, que entra em vigor à meia-noite de sexta-feira, não se aplicará ao Reino Unido e a norte-americanos que passarem pelas "verificações apropriadas", disse o próprio.
"A restrição detém pessoas, não bens", tuitou ele após o pronunciamento.
A União Europeia não ficou impressionada, e "desaprova o fato de que a decisão dos EUA... foi tomada unilateralmente e sem consulta", disseram a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, em um comunicado.
O colapso do mercado golpeou as ações de linhas aéreas e de empresas de lazer acentudadamente.
(Reportagem adicional de Ryan Woo, Stella Qui, Kevin Yao e Gabriel Crossley, em Pequim; Alexandra Alper, Steve Holland, Susan Heavey, David Lawder e Richard Cowan, em Washington; Marine Strauus, em Bruxelas; William Schomberg, em Londres; Stephanie Nebehay, em Genebra; Karolos Grohmann na antiga Olímpia; e Balazs Koranyi e Francesco Canepa, em Frankfurt)