Por David Morgan e Richard Cowan
WASHINGTON (Reuters) - O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, fracassou nesta quinta-feira em convencer um número suficiente de membros de seu próprio partido Republicano para começar a desmantelar o Obamacare, forçando a Câmara dos Deputados a adiar uma votação sobre a legislação de saúde.
O dia foi escolhido para ser uma grande vitória simbólica dos conservadores, com Trump e líderes republicanos da Câmara planejando uma votação no sétimo aniversário da assinatura do Obamacare pelo ex-presidente Barack Obama, um democrata. O Obamacare se tornou um alvo dos republicanos.
Em vez disso, a votação foi adiada indefinidamente, dando um retrocesso ao que Trump esperava ser sua primeira vitória legislativa. Sua equipe e aliados tinham dito que Trump fecharia com chave de ouro as complicadas negociações com os parlamentares.
A votação foi vista pelos mercados financeiros como um teste crucial das habilidades de Trump em trabalhar com o Congresso para aprovar seus planos, incluindo planejados cortes de impostos e gastos em infraestrutura. O índice acionário Dow Jones fechou com variação negativa de 0,02 por cento.
“Isso não foi bom. O mercado não gosta disso”, disse David Kotok, chairman e diretor de investimentos da Cumberland Advisors, companhia de gestão de recursos, após o anúncio do adiamento.
Incerteza sobre o projeto de lei atrapalhou mercados financeiros nesta semana. As ações norte-americanas subiram nos meses recentes por otimismo com a agenda pró-empresas de Trump, mas recuaram na terça-feira, à medida que investidores expressaram preocupação que um fracasso em aprovar o projeto poderia adiar outras prioridades de Trump, como reforma fiscal.
“Atraso em saúde é igual a atraso em corte de impostos. É por isto que o mercado ficou vermelho quando notícias surgiram indicando que eles não tinham um acordo”, disse Kotok.
FIM DO OBAMACARE
Trump e republicanos fizeram campanha com promessas de revogar e substituir o Obamacare, aprovado em 2010.
O controle republicano da Casa Branca, Senado e Câmara dos Deputados deu ao partido uma chance de conseguir cumprir a promessa tão aguardada: derrubar uma lei que segundo eles é muito invasiva e muito cara.
O Obamacare tinha objetivo de aumentar o número de norte-americanos com seguros de saúde através de ordens sobre indivíduos e empregadores e com subsídios baseados em renda. Cerca de 20 milhões de norte-americanos receberam cobertura de seguros através da lei.
O plano da Câmara de substituição rescindiria os impostos criados pelo Obamacare, derrubaria uma multa contra pessoas que não compraram cobertura, reduziria financiamentos ao programa Medicaid para pessoas pobres e deficientes, e modificaria subsídios de impostos que ajudam indivíduos a comprarem planos.
Republicanos conservadores se opuseram ao projeto de lei porque acreditavam que ele não vai longe o suficiente e seria muito parecido com o Obamacare. Republicanos moderados acreditavam que o projeto seria muito duro sobre eleitores.
Grupos de parlamentares de ambos os campos se encontraram com Trump, e um conjunto de moderados conhecido como “Tuesday Group” ainda iria se encontrar nesta quinta-feira com ele na Casa Branca.
Os republicanos possuem maioria na Câmara, mas por conta da oposição democrata unida, podem perder somente 21 votos republicanos. Na manhã desta quinta-feira, a rede NBC News relatou que 30 republicanos planejavam votar “não” ou se inclinavam a esta opção.
Com o adiamento, o presidente da Câmara dos Deputados, Paul Ryan, e sua equipe de liderança republicana irão continuar buscando maneiras de alterar a legislação e levá-la para votação.
(Reportagem adicional de Susan Cornwell, Steve Holland, Jeff Mason, Caroline Humer, Megan Davies, Emily Stephenson, Doina Chiacu e Richard Cowan)