Por Humeyra Pamuk e Ece Toksabay e Tuvan Gumrukcu
ANCARA (Reuters) - A Turquia concordou nesta quinta-feira em interromper sua ofensiva na Síria por cinco dias para permitir que as forças curdas se retirem de uma "zona segura" que o governo turco buscava capturar, em um acordo saudado pelos EUA, mas que líderes turcos consideraram como uma vitória completa.
A trégua foi anunciada pelo vice-presidente dos Estados Unidos, Mike Pence, após conversas em Ancara com o presidente da Turquia, Tayyip Erdogan, e foi rapidamente saudada pelo presidente Donald Trump, que disse que salvaria "milhões de vidas".
Mas, se implementada, alcançará todos os objetivos principais que a Turquia anunciou quando lançou o ataque, oito dias atrás: o controle de uma faixa da Síria com mais de 30 km, com a milícia curda do YPG, ex-aliada dos EUA, obrigada a se retirar.
"A zona de segurança será administrada principalmente pelas Forças Armadas da Turquia", afirmou um comunicado conjunto de EUA e Turquia, divulgado após as negociações.
Uma autoridade turca disse à Reuters que a Turquia conseguiu "exatamente o que queríamos" nas negociações com os Estados Unidos. O ministro das Relações Exteriores da Turquia, Mevlut Cavusoglu, descreveu o evento como uma pausa, apenas para permitir que os combatentes curdos se retirem.
Os combatentes curdos serão forçados a desistir de suas armas pesadas, e suas posições serão destruídas, disse Cavusoglu. Ele se recusou a chamar o acordo de "cessar-fogo", dizendo que cessar-fogo só pode ser acordado por lados legítimos, e não pelos curdos, que a Turquia considera terroristas.
Pence disse que os EUA já estava em contato com as Forças Democráticas Sírias (FDS), lideradas pelos curdos, que concordaram em se retirar e já estavam se retirando.
"Obrigado, Erdogan", afirmou Trump no Twitter. "Milhões de vidas serão salvas!", disse.
"Hoje, os Estados Unidos e a Turquia concordaram com um cessar-fogo na Síria", disse Pence em entrevista coletiva após mais de quatro horas de conversas no palácio presidencial de Ancara.
"O lado turco fará uma pausa na Operação Primavera da Paz para permitir a retirada das forças YPG da zona segura por 120 horas", acrescentou Pence. "Todas as operações militares da Operação Primavera da Paz serão pausadas, e a Operação Primavera da Paz será interrompida completamente após a retirada."
O acordo firmado com Erdogan também prevê que a Turquia não se envolva em operações militares na cidade fronteiriça síria de Kobani, disse Pence. Cavusoglu declarou que a Turquia não assumiu compromissos sobre Kobani.
O ataque turco criou uma nova crise humanitária na Síria com 200.000 civis em fuga, um alerta de segurança sobre milhares de combatentes do Estado Islâmico abandonados nas prisões curdas e um turbilhão político para Trump dentro dos EUA.
Trump foi acusado de abandonar combatentes curdos, os principais parceiros de Washington na batalha para desmantelar o autodeclarado califado do Estado Islâmico na Síria, retirando tropas da fronteira quando a Turquia lançou sua ofensiva em 9 de outubro.
(Reportagem adicional de Stephanie Nebehay em Genebra, Ellen Francis em Beirute e Susan Heavey em Washington)