Por Thomas Escritt
BERLIM (Reuters) - O presidente da Turquia, Tayyip Erdogan, pediu que a Alemanha, que visita nesta quinta-feira, declare como grupo terrorista o movimento do dissidente Fethullah Gulen, que Ancara culpa por uma tentativa fracassada de golpe de 2016.
O pedido, feito em um artigo publicado no jornal Frankfurter Allgemeine, colocou no foco as diferenças políticas entre os dois países na chegada de Erdogan, que tenta reparar os laços políticos e comerciais tensionados.
A Alemanha vem dizendo que precisa de mais provas que liguem a rede de apoiadores do clérigo residente nos Estados Unidos, que a Turquia rotula como Organização Terrorista Gulenista (Feto), ao esforço fracassado de deposição do governo turco.
A Alemanha deveria "reconhecer que a Feto é responsável pela tentativa de golpe, como o Reino Unido fez", escreveu Erdogan no artigo, veiculado na quarta-feira no site do jornal.
A recusa de Berlim de extraditar militares que a Turquia acusa de participarem do levante malfadado, e que pediram asilo, revoltou Ancara. O governo alemão teme pelo destino das dezenas de milhares de pessoas presas na repressão subsequente, entre elas dezenas de cidadãos alemães.
"Estamos buscando o objetivo de fortalecer nossos laços comerciais e econômicos", escreveu Erdogan. "Em nome da prosperidade e do futuro de ambos os países, vamos fortalecer nosso interesses mútuos e reduzir nossos problemas".
A visita de Estado de Erdogan à Alemanha, durante a qual se encontrará com a chanceler Angela Merkel três vezes, ocorre em um momento de crise na economia turca, mas ele pode se deparar com uma recepção fria.
Depois de anos de crescimento acelerado, a Turquia viu sua dívida externa pesada se agravar devido à desvalorização de 40 por cento da lira neste ano – uma queda que se intensificou depois que o presidente dos EUA, Donald Trump, impôs sanções em retaliação à detenção de um pastor norte-americano.
Ressaltando a recepção fria que Erdogan deve esperar, manifestantes se reuniram em um aeroporto de Berlim horas antes de sua chegada e protestaram contra o estado da liberdade de imprensa na Turquia, onde dezenas de jornalistas críticos estão presos. Grande parte do centro da capital alemã foi interditada.
Apesar da desconfiança, o governo alemão, ciente da diáspora de três milhões de turcos que vive em seu território, está acolhendo cautelosamente os acenos de Erdogan.
(Reportagem adicional de Stephen Adler, Parisa Hafezi, Ezgi Erkoyun, Daren Butler e Tassilo Hummel)