Por Pavel Polityuk
KIEV (Reuters) - A Ucrânia disse que suas forças repeliram ataques russos ao longo da linha de frente, nesta quinta-feira, véspera do aniversário da guerra, enquanto o presidente da Rússia, Vladimir Putin, de mãos vazias após uma sangrenta ofensiva de inverno, falava sobre ampliar o arsenal nuclear da Rússia.
Depois de uma série de discursos estridentes no período que antecedeu o primeiro aniversário de sua invasão, Putin anunciou planos nesta quinta-feira para implantar novos mísseis balísticos intercontinentais de ogivas múltiplas Sarmat este ano. No início desta semana, ele suspendeu a participação da Rússia no tratado Novo Start de controle de armas nucleares.
"Como antes, daremos mais atenção ao fortalecimento da tríade nuclear", disse Putin, referindo-se aos mísseis nucleares baseados em terra, mar e ar.
"Continuaremos a produção em massa de sistemas hipersônicos Kinzhal baseados no ar e iniciaremos o fornecimento em massa de mísseis hipersônicos Zircon baseados no mar", declarou Putin em comentários divulgados pelo Kremlin nesta quinta-feira.
A Ucrânia e seus aliados ocidentais classificaram a postura nuclear como distração de uma fracassada campanha militar russa no solo, um ano depois de Putin lançar a maior guerra terrestre na Europa desde a Segunda Guerra Mundial.
Nas últimas semanas, a Rússia montou ataques de infantaria em terreno congelado em batalhas descritas por ambos os lados como as mais sangrentas da guerra.
Autoridades ocidentais disseram acreditar que a Rússia planejou uma ofensiva para capturar um novo território antes do aniversário, usando centenas de milhares de reservistas recrutados nos últimos meses, para dar a Putin chance de anunciar vitória.
As forças de Moscou fizeram progressos tentando cercar a pequena cidade de Bakhmut, mas não conseguiram romper as linhas ucranianas ao norte, perto de Kremmina, e ao sul, em Vuhledar, onde sofreram pesadas perdas atacando em campo aberto.
As forças ucranianas repeliram 90 ataques russos no nordeste e no leste nas últimas 24 horas, disseram os militares nesta quinta-feira.
A Ucrânia fechou algumas escolas para o aniversário da guerra, antecipando que Moscou poderia lançar ataques com mísseis de longo alcance para marcar a data. Mas as autoridades de Kiev disseram acreditar que Moscou não tem mais capacidade para uma dramática demonstração de força.
"Nada incomum acontecerá. Esforço normal (russo)... Um pequeno ataque com mísseis está planejado", disse Kyrylo Budanov, chefe da inteligência militar da Ucrânia, ao site de notícias Ukrainska Pravda em entrevista.
"De 23 a 24 (fevereiro), eles têm duas datas. Acredite, já passamos por isso mais de 20 vezes", afirmou.
Os militares britânicos disseram em uma atualização diária de inteligência que Moscou pode estar planejando outro ataque em grande escala a Vuhledar, apesar dos ataques fracassados neste mês.
Sem grandes vitórias no campo de batalha para relatar a tempo para o aniversário, Putin voltou-se para a retórica nuclear, anunciando em um importante discurso na terça-feira que a Rússia suspenderia a participação no tratado de controle de armas Novo Start.
As implicações práticas parecem limitadas: as inspeções sob o tratado já haviam sido suspensas durante a guerra. Uma autoridade graduada de defesa disse que Moscou manterá os limites do tratado sobre mísseis e continuará notificando Washington quando os mover.
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, que ofuscou Putin esta semana ao viajar sem avisar a Kiev e depois fazer um discurso marcante para uma multidão em Varsóvia, chamou a suspensão do Novo Start de "grande erro", mas disse na quarta-feira: "Eu não li que ele está pensando em usar armas nucleares ou algo assim".