Por Gabriela Baczynska
KIEV (Reuters) - De segunda a sexta-feira, Mykhaylo é advogado, Alexander é programador de TI e Konstantin é freelancer em publicidade online. No sábado, os três se reuniram em um canteiro de obras abandonado nos arredores de Kiev para treinar como reservistas do exército ucraniano, prontos para serem convocados em caso de guerra com a vizinha Rússia.
Nervoso com a ameaça de cerca de 120.000 soldados russos concentrados perto da fronteira, o governo da Ucrânia lançou uma nova força de defesa territorial este ano, e quer arregimentar um corpo de até 130.000 reservistas.
Embora possam ter pouca chance contra o exército russo, profissional, mais bem equipado e treinado, reservistas podem ser usados para proteger locais civis na capital ucraniana no caso de uma invasão.
O treinamento de sábado reuniu cerca de 70 moradores, alguns com equipamento completo de infantaria, incluindo rifles de caça e com experiência de combate de quando a Rússia anexou a Crimeia em 2014 e depois deu apoio a rebeldes que lutavam contra tropas do governo no leste da Ucrânia. Outros, de tênis e roupas esportivas casuais receberam rifles de madeira simulados.
"Estou preocupado", disse Konstantin Sevchuk, o freelancer de 43 anos que disse que até agora evitou qualquer contato com os militares depois de servir um ano na região leste de Donbass em 2014/15 durante a mobilização geral da Ucrânia. "Isso realmente não se encaixa na minha vida, eu realmente não queria. Mas agora a situação é tal que é necessário."
Embora o programador de TI Alexander tenha participado dos protestos em massa pró-democracia em Kiev em 2013/14, ele disse que não se sentia pronto para lutar quando Moscou reagiu à derrubada do presidente pró-Rússia da Ucrânia, anexando a Crimeia.
"Agora estou na casa dos 30 e é hora de me juntar", disse ele, com o rosto coberto por um lenço azul. "É melhor entrar agora do que quando for tarde demais. Quero estar preparado."
Respirando pesadamente depois de se levantar e cair no chão coberto de neve várias vezes com seu equipamento pesado, Mykhaylo, 39, estava entusiasmado em ir lutar. "Minha inclinação para o ofício de guerra já existia muito antes da guerra. Agora faz todo o sentido fazê-lo", disse ele durante os exercícios de demonstração.
Enquanto os Estados Unidos alertaram que uma intervenção militar é provável e iminente, o presidente ucraniano Volodymyr Zelenskiy disse que muito "pânico" está prejudicando a economia do país de 41 milhões de habitantes.
O presidente russo, Vladimir Putin, disse que o Ocidente não abordou as principais demandas de segurança de Moscou na crise sobre a Ucrânia, mas que está pronto para continuar falando. Enquanto isso, o Ocidente ameaçou a Rússia com pesadas sanções econômicas caso ela invadisse a Ucrânia novamente.
Embora Moscou insista que não quer uma guerra, também rejeitou os pedidos para retirar suas tropas, dizendo que pode usá-las como achar melhor em seu próprio território. Putin cita a resposta ocidental como evidência de que é o alvo, não o instigador, da agressão.