Por Viktoriia Lakezina e Max Hunder
KHERSON, Ucrânia (Reuters) - Ucranianos abandonaram suas casas conforme inundações atingiam uma faixa da região sul nesta quarta-feira após a destruição de uma vasta barragem na linha de frente entre as forças russas e ucranianas, que trocam acusações de responsabilidade.
Moradores atravessaram ruas inundadas carregando crianças nos ombros, cachorros nos braços e pertences em sacolas plásticas, enquanto equipes de resgate usavam botes de borracha para vasculhar áreas onde as águas chegavam acima da altura da cabeça.
A Ucrânia disse que a inundação deixará centenas de milhares de pessoas sem acesso a água potável, inundará dezenas de milhares de hectares de terras agrícolas e criará mais desertos.
"Se a água subir mais um metro, vamos perder nossa casa", disse Oleksandr Reva, em um vilarejo na margem, que estava mudando os pertences de sua família para a casa abandonada de um vizinho em um terreno mais alto. O telhado de uma casa podia ser visto sendo arrastado pelo rio Dnipro em uma corrente.
O desastre na barragem de Nova Kakhovka coincide com uma iminente contraofensiva há muito esperada das forças ucranianas, vista como a próxima grande fase da guerra. Cada lado acusou o outro de continuar a bombardear a zona de inundação e alertou sobre minas terrestres desenterradas pelo acontecimento.
Kiev disse nesta quarta-feira que suas tropas no leste avançaram mais de um quilômetro ao redor da cidade arruinada de Bakhmut, no leste da Ucrânia, sua alegação mais explícita de progresso desde que a Rússia informou o início da ofensiva ucraniana nesta semana. A Rússia disse que lutou contra o ataque.
O secretário do Conselho de Segurança Nacional da Ucrânia, Oleksiy Danilov, afirmou que os ataques em andamento ainda estão localizados e que a ofensiva em grande escala ainda não começou: "Quando começarmos a contraofensiva, todos saberão disso, eles verão", disse ele à Reuters.
Moradores da zona de inundação no sul do país atribuíram o rompimento da barragem às tropas russas que a controlavam de suas posições na margem oposta.
"Eles nos odeiam", disse Reva. "Eles querem destruir uma nação ucraniana e a própria Ucrânia. E não se importam com os meios, porque nada é sagrado para eles."
A Rússia impôs estado de emergência nas partes da província de Kherson que controla, onde muitas cidades e vilarejos ficam nas planícies abaixo da represa. Moradores de lá disseram à Reuters por telefone que as tropas russas que patrulhavam as ruas estavam ameaçando os civis que se aproximavam.
A Ucrânia espera que as enchentes parem de subir até o final desta quarta-feira, depois de atingir cerca de cinco metros durante a noite, disse o vice-chefe presidencial Oleksiy Kuleba.
Duas mil pessoas foram retiradas até agora da parte controlada pela Ucrânia da zona de inundação, e o nível da água atingiu seu nível mais alto em 17 assentamentos com uma população somada de 16.000 pessoas.
"Tudo está submerso na água, todos os móveis, a geladeira, a comida, todas as flores, tudo está flutuando. Não sei o que fazer", disse Oksana, de 53 anos, na cidade de Kherson.
A agência de notícias estatal russa Tass informou que o nível da água pode permanecer elevado em alguns lugares por até 10 dias.