Por John Chalmers
BRUXELAS (Reuters) - Em meio à frustração crescente da Europa com a crise da separação do Reino Unido da União Europeia, França e Holanda aventaram a hipótese de o bloco rejeitar um eventual pedido do primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, de adiar a data de saída de 31 de outubro.
Mas, embora a paciência esteja se esgotando nas capitais dos outros 27 membros da UE, poucos acreditam ser provável que seus líderes forçarão o Reino Unido a realizar uma desfiliação caótica que aplicaria um golpe duro em suas próprias economias.
Um diplomata graduado da UE disse que os comentários de ministros da França e da Holanda podem ter visado seus públicos internos perante a consternação cada vez maior do continente com o drama do Brexit. Também podem ter sido uma forma de alertar o Reino Unido de que este precisa acelerar seus esforços para chegar a um acordo até 31 de outubro.
Autoridades e diplomatas disseram que os demais 27 integrantes da UE querem provas de que um adiamento não iria simplesmente estender por mais três meses o embate com Londres e a um impasse contínuo que levaria a um Brexit sem acordo.
Uma eleição britânica, que parece provável, bastaria para convencê-los que a dinâmica pode mudar.
"Ninguém dos 27 da UE quer empurrar os britânicos do precipício, mas o pedido tem que ser feito de boa fé", disse um diplomata graduado. "Sempre houve uma opinião na bolha de Bruxelas de que algo como uma eleição justificaria um adiamento".
O Parlamento britânico aprovou uma legislação para obrigar Johnson a obter uma prorrogação para a saída de seu país da UE em uma cúpula no mês que vem se ele não tiver firmado um acordo de separação.
Embora o premiê tenha dito que preferia estar "morto em uma vala" do que fazer tal pedido, as poucas opções que ele tem para evitá-lo incluem renunciar ou violar a lei.
O ministro das Relações Exteriores da França, Jean-Yves Le Drian, disse no domingo que, no momento, a UE não concederia uma extensão, e a ministra do Comércio Exterior da Holanda disse em uma entrevista publicada na segunda-feira que um Brexit "sem acordo" pode ser melhor do que mais atraso.
Os países da UE sofrerão danos equivalentes a cerca de 0,5% da produção econômica anual se a Grã-Bretanha deixar o bloco sem um acordo comercial e regulatório, informou o Fundo Monetário Internacional em abril.
Os países do bloco sofreriam danos equivalentes a cerca de 0,5% de seu Produto Interno Bruto (PIB) se o Reino Unido sair do bloco sem um pacto comercial e regulatório, alertou o Fundo Monetário Internacional (FMI) em abril.
"Chega um ponto em que a certeza de ficar pior pode ser melhor do que a incerteza constante sem nenhuma perspectiva nova", disse a ministra holandesa Sigrid Kaag ao diário holandês Het Financieele Dagblad.
Paschal Donohoe, ministro das Finanças da Irlanda, cuja nação seria a mais atingida por um Brexit sem acordo, disse nesta segunda-feira que Dublin concordaria com um adiamento do prazo final.
Ainda não houve uma discussão formal entre os 27 líderes da UE sobre se eles aprovariam um atraso, porque um pedido deve vir primeiro da Grã-Bretanha. Diplomatas disseram que, se o Reino Unido buscar um atraso, a resposta dependerá da finalidade da extensão.
(Reportagem adicional de Jan Strupcewski)