Por Sudarshan Varadhan
NOVA DÉLHI (Reuters) - Um estupro é reportado a cada 15 minutos entre mulheres na Índia, de acordo com dados do governo divulgados nesta quinta-feira, enfatizando a péssima reputação de um dos piores lugares do mundo para ser mulher.
O estupro coletivo e assassinato de uma mulher em um ônibus em Nova Délhi, em 2012, que recebeu ampla atenção mundial, levou dezenas de milhares de pessoas às ruas em toda a Índia e gerou reivindicações por ações de estrelas do cinema a políticos, levando a punições mais duras e a novos tribunais mais ágeis. Mas a violência seguiu inabalável.
Mulheres relataram quase 34 mil casos de estupro em 2018, número praticamente igual ao do ano anterior. Do total, 85% dos casos geraram acusações e apenas 27% a condenações, de acordo com o relatório anual sobre crime divulgado pelo Ministério de Assuntos Internos.
Grupos de defesa dos direitos das mulheres afirmam que os crimes contra elas são frequentemente levados menos a sério, e falta sensibilidade à investigação policial.
"O país ainda é dirigido por homens, uma (primeira-ministra mulher) Indira Gandhi não vai mudar as coisas. A maioria dos juízes ainda é homem", disse Lalitha Kumaramangalam, ex-presidente da Comissão Nacional para as Mulheres.
"Há poucos laboratórios forenses no país, e os tribunais expressos têm poucos juízes", disse Kumaramangalam, que é integrante do Partido Bharatiya Janata (BJP), o mesmo do primeiro-ministro Narendra Modi.
O estupro de uma adolescente em 2017 pelo ex-parlamentar estadual do BJP Kuldeep Singh Sengar ganhou atenção nacional quando a jovem que o acusava tentou se matar no ano seguinte, acusando a polícia de inação.
Cinco meses depois de Sengar ser condenado, em dezembro de 2019, a família da acusadora teve que receber segurança do governo depois que um caminhão colidiu contra o carro em que estavam, ferindo a adolescente e matando dois de seus parentes.
Um estudo de 2015 do Centro para a Lei e Pesquisa Política em Bengaluru concluiu que os tribunais expressos são realmente mais ágeis, mas não conseguem lidar com um grande volume de casos.
E um estudo de 2016 do Partners for Law in Development, em Nova Délhi, determinou que cada caso ainda leva em média oito meses e meio para ser analisado, mais de quatro vezes mais que o período recomendado.
As estatísticas do governo subestimam o número de estupros, já que relatar um caso às autoridades ainda é um tabu em algumas partes da Índia, e porque estupros seguidos por assassinatos são contabilizados como assassinatos.