Por Arshad Mohammed
WASHINGTON (Reuters) - A Rússia criticou nesta sexta-feira a ameaça do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de encerrar o acordo nuclear com o Irã, e a União Europeia defendeu o pacto, enquanto Israel e Arábia Saudita saudaram a posição de confronto dirigida a Teerã.
Em um discurso amplamente esperado, Trump afirmou que não iria certificar o acordo entre o Irã, seis potências mundiais e a União Europeia, sob o qual Teerã se comprometeu a frear seu programa nuclear em troca de um afrouxamento das sanções.
Seu posicionamento o colocou em lado oposto ao de aliados-chave dos Estados Unidos, incluindo Grã-Bretanha, França e Alemanha, que, assim como a Rússia e a China, foram as principais potências envolvidas nas negociações para o acordo com o Irã junto à União Europeia.
Em Bruxelas, a chefe da política externa da UE, Federica Mogherini, disse que Washington não poderia unilateralmente cancelar o acordo.
"Não podemos pagar como comunidade internacional para desmantelar um acordo nuclear que está funcionando", afirmou Federica, que presidiu as etapas finais das conversas sobre o acordo.
"Este acordo não é um acordo bilateral... A comunidade internacional, e a União Europeia com ela, indicou claramente que o acordo deve, e deverá, continuar a vigorar", disse a jornalistas.
Líderes da Grã-Bretanha, França e Alemanha divulgaram comunicado conjunto alertando os Estados Unidos contra a tomada de decisões que possam prejudicar o acordo nuclear com o Irã, como voltar a impor sanções.
Os três líderes desses países também disseram compartilhar as preocupações dos EUA sobre o programa de míssil balístico iraniano e atividades regionais e se declararam prontos a trabalhar junto com o governo norte-americano em relação a essas questões.
O Ministério das Relações Exteriores da Rússia afirmou em um comunicado divulgado após o discurso de Trump que não há espaço na diplomacia internacional para ameaças e retórica agressiva, e que tais métodos estão fadados ao fracasso.
O ministério afirmou que a decisão de Trump de não certificar um acordo internacional sobre o programa nuclear do Irã não teria um impacto direto na implementação do tratado, mas vai contra a sua essência.
Não houve reação imediata da China, embora Alexei Pushkov, parlamentar pró-Kremlin, tenha dito que nem Moscou nem Pequim apoiavam a posição de Trump.
O presidente norte-americano, no entanto, obteve apoio de Israel e Arábia Saudita.
"O presidente Trump acaba de criar uma oportunidade de consertar esse acordo ruim, de reverter as agressões do Irã e de confrontar seu apoio criminoso ao terrorismo", disse o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, em uma declaração em vídeo.
A Arábia Saudita também saudou o que chamou de "estratégia decisiva" de Trump contra o Irã e disse que o afrouxamento das sanções permitiu que Teerã desenvolvesse seu programa de mísseis balísticos, intensificasse seu apoio a grupos militantes incluindo Hezbollah e houthis, no Iêmen, e atacasse rotas marítimas globais.
O governo de Riad disse em comunicado que apoia o acordo nuclear, "mas o Irã tomou vantagem do ganho econômico com o levantamento das sanções e usou isso para continuar a desestabilizar a região".
(Reportagem de Robin Emmott em Bruxelas, Steve Holland em
Washington; John Irish, Michel Rose e Marine Pennetier em
Paris, Stephen Kalin em Riad; Christian Lowe em Moscou e Dan
Williams em Jerusalém)