Por Robert Evans
LONDRES (Reuters) - O físico Peter Higgs, cuja teoria sobre uma partícula não detectada no universo mudou a ciência, sendo comprovada por uma descoberta vencedora do prêmio Nobel meio século depois, morreu aos 94 anos, afirmou a Universidade de Edimburgo nesta terça-feira.
A descoberta do Bóson de Higgs em 2012 no centro de pesquisa CERN, perto de Genebra, foi amplamente comemorada como o maior avanço em conhecimento sobre os cosmos em mais de 30 anos, direcionando a física a ideias que antes eram ficção científica.
“Para mim, pessoalmente, é apenas a confirmação de algo que fiz 48 anos atrás e é muito satisfatório provarem que eu estava certo de alguma maneira”, disse o cientista britânico à Reuters na época.
“No começo, eu não tinha nenhuma expectativa de que ainda estaria vivo quando isso acontecesse.”
A Universidade de Edimburgo, onde Higgs manteve uma cátedra docente durante muitos anos, disse que ele morreu pacificamente nesta segunda-feira em casa, após uma curta doença.
“Peter Higgs foi um indivíduo notável -- um cientista genuinamente dotado cuja visão e imaginação enriqueceram nosso conhecimento sobre o mundo que nos cerca”, disse o professor Sir Peter Mathieson, diretor e reitor da universidade.
Higgs se descreveu como “incompetente” no laboratório de física na escola e inicialmente preferia matemática ou química. Porém, inspirado pelo físico quântico Paul Dirac, que havia frequentado a mesma escola, ele acabou se especializando em física teórica.
O que veio a ser conhecido como o Bóson de Higgs resolveria o enigma sobre como várias partículas fundamentais obtêm suas massas: ao interagir com o invisível “campo de Higgs” que permeia o espaço.
A interação, conhecida como o mecanismo de “Brout-Englert-Higgs”, rendeu a Higgs e ao belga François Englert o prêmio Nobel de física em 2013. O colaborador de Englert, Robert Brout, morreu em 2011.
“UMA COISA INCRÍVEL”
Em 1964, o primeiro artigo de Higgs sobre o modelo foi rejeitado por uma revista acadêmica no CERN por “não ter relevância à física”. Seu artigo revisado, embora publicado semanas depois do de Englert e Brout, foi o primeiro a prever explicitamente a existência da nova partícula.
A visão tentadora prometia preencher uma lacuna no “Modelo Padrão” -- a estrutura teórica básica da física -- se a existência da partícula pudesse ser comprovada.
Durante quase três décadas, físicos no CERN e no Fermilab de Chicago replicaram o “Big Bang” esmagando partículas na esperança de visualizar o Bóson de Higgs nas miniexplosões resultantes.
O enorme Grande Colisor de Hádrons do CERN acabou se provando a marreta necessária e, em 2012, dois experimentos no local descobriram o Bóson de Higgs de maneira independente.
(Reportagem de Robert Evans e Tom Miles; reportagem adicional de Farouq Suleiman)