(Reuters) - O escritor norte-americano Philip Roth, que foi tanto louvado quanto ridicularizado por expor as neuroses e obsessões que assombraram a experiência judaico-americana moderna, morreu na terça-feira, aos 85 anos, informou seu agente.
Roth morreu na cidade de Nova York às 22h30 (horário local) devido a uma insuficiência cardíaca, segundo seu agente literário, Andrew Wylie.
O autor escreveu mais de 30 livros, entre eles “Patrimônio”, volume de memórias de 1991 no qual examinou seu relacionamento complexo com o pai e que venceu o prêmio National Book Critics Circle Award.
Nos últimos anos Roth se voltou a crises existenciais e sexuais da meia-idade, jamais abandonando seu compromisso de explorar a vergonha, o constrangimento e outros segredos culpados do ser, embora normalmente com uma grande dose de humor.
Depois de mais de 50 anos escrevendo, Roth decidiu que "Nêmesis", de 2010, que conta a história de uma epidemia de pólio no bairro de Newark, em Nova Jersey, no qual cresceu, seria seu último romance. Depois disso ele releu toda sua obra "para ver se perdi meu tempo", afirmou em uma entrevista de 2014 publicada no caderno cultural New York Times Book Review.
Na conclusão ele citou Joe Lewis, boxeador campeão dos pesos-pesados nos anos 1930 e 1940: "Fiz o melhor que pude com o que tinha".
Em 2017 ele publicou "Why Write?", uma coletânea de ensaios e obras de não ficção escritas entre 1960 e 2013.
Sua obra mais conhecida é "Complexo de Portnoy", romance de 1969 narrado em primeira pessoa por Alexander Portnoy, um jovem judeu nova-iorquino de classe média. O livro tem várias cenas notórias de masturbação e um narrador que declara querer "colocar o id de volta no yid".
Seu primeiro livro publicado foi "Adeus, Columbus", de 1959, que é composto por uma novela e contos e venceu o prêmio National Book Award. Vários de seus romances, como "Zuckerman Unbound", "The Ghost Writer" e "Lição de Anatomia" apresentam Nathan Zuckerman, personagem que se tornou o alter ego fictício de Roth.
Roth gostava de brincar com as distinções entre fato e ficção, escrevendo muitas vezes sobre romancistas neuróticos e até batizando alguns personagens como "Philip" -- mas se aborrecia e se divertia frequentemente com o desejo dos leitores de projetar o verdadeiro Roth em suas criações.
Embora seus romances explorassem repetidamente a experiência judia nos Estados Unidos, Roth, que se dizia ateu, rejeitou ser rotulado como um escritor judaico-americano.
"Não é uma questão que me interessa. Sei exatamente o que significa ser judeu, e na verdade não é interessante", disse ele ao jornal Guardian em 2005. "Sou um americano".
Roth venceu o Prêmio Pulitzer por "Pastoral Americana", de 1997, que analisa o impacto dos anos 1960 em uma família de Nova Jersey. Ele foi o primeiro escritor a conquistar três vezes o prêmio PEN/Faulkner, homenageado por "Operação Shylock" em 1994, "A Marca Humana", em 2001, e "Homem Comum", em 2007. Roth também foi agraciado com a Medalha Nacional das Artes na Casa Branca em 1998.
(Por Eric Beech)