Por Brian Ellsworth e Sarah Kinosian
CARACAS (Reuters) - As urnas foram abertas na Venezuela neste domingo para uma eleição que escolherá um novo Congresso sob boicote da oposição e apontada por vários países como mais uma fraude do presidente Nicolás Maduro para reassumir o controle da última instituição estatal que não está nas mãos do Partido Socialista.
É quase certo que a votação devolverá o controle do Congresso aos aliados de Maduro, apesar de seu governo estar sofrendo com uma economia em ruínas, sanções agressivas dos Estados Unidos que sufocam as exportações de petróleo do país e a migração de quase cinco milhões de cidadãos.
Membros do novo Congresso terão poucas ferramentas para melhorar a vida dos venezuelanos, cujos salários mensais raramente cobrem os custos do supermercado de um único dia, e as eleições não devem melhorar a reputação de Maduro entre as nações ocidentais pela sua má administração e por minar os direitos humanos.
Pode, no entanto, dar legitimidade a Maduro para oferecer acordos de investimentos para as poucas empresas ao redor do mundo que assumem o risco de violar sanções de Washington em troca de acesso às maiores reservas de petróleo do mundo.
Muitos venezuelanos, sofrendo sem necessidades básicas, como eletricidade, segurança e comida, expressam cansaço com os políticos do país, que, segundo eles, não fizeram nada para conter a queda na qualidade de vida. Menos pessoas do que nas últimas eleições estavam esperando para votar nos postos eleitorais da região de Caracas na manhã de domingo, disseram testemunhas da Reuters.
"Se não merecemos comida, eletricidade, gás ou água deles, eles não merecem nosso voto", disse Hernando Escobar, 46, um líder indígena e professor no estado do Amazonas, no sul, afirmou à Reuters, em entrevista esta semana.
A eleição fecha um ciclo que começou em 2015 quando uma oposição eufórica comemorou vitória esmagadora no Congresso, apenas para que seus poderes legislativos fossem limitados pelos tribunais pró-governo e pela criação de um órgão todo-poderoso chamado Assembleia Nacional Constituinte, em 2017.
O líder da oposição, Juan Guaidó, presidente do atual Congresso, pediu que os venezuelanos pulem a eleição e participem de uma consulta em 12 de dezembro que perguntará aos cidadãos se eles rejeitam o pleito de domingo e se querem uma mudança de governo. Mas alguns adversários do governo escolheram não aderir ao boicote, argumentando que a eleição é a única ferramenta que tinham para promover mudanças.
Embora muitos adversários declarados de Maduro estejam concorrendo, Guaidó argumenta que eles, na verdade, são aliados fantasmas do governo, cujas presenças nas cédulas servem para confundir os eleitores.
Guaidó foi reconhecido por mais de 50 países, incluindo os EUA, como o presidente interino legítimo da Venezuela, após a maioria das nações ocidentais repudiarem a eleição de Maduro, em 2018, como uma fraude.
A legislatura aprovou no sábado uma resolução condenando o “evento” de domingo como fraudulento e inconstitucional, acrescentando que “viola o direito da Venezuela de realizar eleições livres, transparentes e justas”.
(Reportagem adicioal de Daisy Buitrago)