Por Andrew MacAskill e Iona Serrapica
LONDRES (Reuters) - Há 75 anos, um jovem marinheiro britânico estava na ponte de comando de um navio de guerra com os canos das armas apontados para o litoral da França e observava a devastação se abater sobre um país que queria libertar.
Hoje com 93 anos, Richard Llewellyn é parte de um grupo cada vez menor de veteranos da invasão dos Aliados na Normandia no Dia D, uma operação que mudou o curso da Segunda Guerra Mundial e assinalou o começo do fim do conflito.
Normalmente, a invasão da França é contada como a história de jovens corajosos que avançaram pelas praias e lutaram para abrir caminho rumo à terra. Mas outra batalha ocorreu no mar entre os navios dos Aliados e as enormes armas alemãs posicionadas na costa naquele dia.
Llewellyn descreve as explosões atordoantes ao longo da praia enquanto cada embarcação dos Aliados disparava. O poder de fogo imenso lançou projéteis contra as colinas, desfigurando terra, rochas e paisagens inteiras.
Ao mesmo tempo, as armas das baterias alemãs disparavam em resposta. Os homens nos botes ouviam o assobio dos projéteis acima de suas cabeças. Os motores dos bombardeiros no céu aumentavam o choque dos ruídos. Cadáveres boiavam no mar.
Llewellyn compara a cena a assistir a uma queima de fogos de artifício espetacular. Os canhões dos navios de guerra cuspiam bolas de chamas laranjas enormes e fumaça cor de mostarda. Alguns dos navios de batalha disparavam projéteis de 16 polegadas, quase tão pesados quanto um carro e tão grandes que era possível vê-los cruzando os ares.
"O barulho era inacreditável. Uma das coisas de que me lembro depois, mais do que qualquer outra, é o barulho", contou Llewellyn, que tinha 18 anos à época e era guarda-marinha do HMS Ajax, um cruzador leve da Marinha britânica.
"Se você vai ao cinema e ouve muito barulho e disparos e tal, não chega a absorver. Mas se você realmente está lá, todo o ar vibra o tempo inteiro", afirmou.
O ataque de quase 7 mil navios e lanchas de desembarque ao longo de um trecho de 80 quilômetros do litoral da Normandia continua sendo a maior invasão anfíbia da história.
Nas décadas seguintes, a invasão se tornou um marco para os líderes do Reino Unido, dos Estados Unidos, da França e de outros países ocidentais que se reunirão na Normandia no mês que vem para relembrar o feito heróico.
O evento, no entanto, coincidirá com um momento em que os relacionamentos transatlânticos estão fragilizados.
Diferenças a respeito dos gastos militares da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), desentendimentos sobre como lidar com a gigante chinesa de telecomunicações Huawei e a decisão britânica de sair da União Europeia elevaram as tensões na aliança de décadas.