Por Ronen Zvulun
JERUSALÉM (Reuters) - Jerusalém, antiga cidade sagrada e epicentro do conflito israelo-palestino, revela uma faceta completamente diferente perto da meia-noite.
Muito depois de visitantes fazerem sua peregrinação diária a locais de culto de muçulmanos, judeus e cristãos, um punhado de clubes, bares e galerias de arte improvisadas que ditam moda ganha vida.
Os shows de drag queens, as festas de hipsters e as bandas de punk hardcore de Jerusalém Ocidental parecem outro mundo ao lado das áreas vizinhas de judeus ultraortodoxos ou dos bairros palestinos do setor oriental da cidade.
Comparada com muitos locais de Tel Aviv, polo comercial mais afluente e descontraído, a vida noturna de Jerusalém é tímida.
Mas os adeptos dizem que sua cidade, em que as divisões religiosas, étnicas e políticas são profundas, deu origem a uma subcultura pioneira.
"Jerusalém é um local bastante extremo, política e religiosamente", disse Yaakov Baharav, membro de 35 anos do coletivo de arte Taltalistim, que organiza festas e eventos de arte em espaços abandonados da cidade.
Israel reivindica toda Jerusalém, incluindo o setor oriental capturado na Guerra dos Seis Dias de 1967, como sua capital. Os palestinos querem que Jerusalém Oriental seja a capital de um Estado que pretendem estabelecer na Cisjordânia sob ocupação e em Gaza.
Jovens liberais da cidade às vezes sentem que têm a missão de criar um santuário de sanidade --ou de loucura-- aberto a pessoas de todos os credos, gêneros e nacionalidades que só querem se divertir e se libertar das realidades duras de Jerusalém.
Muitos dos 900 mil habitantes da cidade são pobres e desempregados, particularmente palestinos e comunidades de judeus israelenses ultraortodoxos.
Jerusalém não é central somente no conflito israelo-palestino, também existe tensão entre moradores ultraortodoxos e uma comunidade judia secular declinante que muitas vezes se sente sufocada pelas restrições religiosas.
O projeto mais recente do Taltalistim foi ocupar um complexo de cinema deserto na área industrial da metrópole e transformá-lo em uma instalação colorida para músicos e artistas realizarem apresentações e festas até a madrugada.
"Tentamos oferecer às pessoas a chance de desfrutar de liberdade total", disse Baharav enquanto um homem e uma mulher nus envoltos em filme plástico se contorciam no chão ao som de música ambiente tocada por um DJ.
"A liberdade não é algo que você pode desdenhar em Jerusalém."
(Reportagem e redação adicional de Maayan Lubell)