Por Tim Reid e Gabriella Borter e Michael Martina
LOS ANGELES (Reuters) - Quando Mayra Gomez, democrata por toda uma vida, disse ao filho de 21 anos, cinco meses atrás, que votará em Donald Trump na eleição presidencial dos Estados Unidos nesta terça-feira, ele cortou relações.
"Ele me disse especificamente: 'você não é mais minha mãe, porque vai votar em Trump'", disse Gomez, cuidadora de 41 anos de Milwaukee, à Reuters. A última conversa entre os dois foi tão amarga que ela não tem certeza de que os dois podem se reconciliar, mesmo se Trump não se reeleger.
Ela não é a única a pensar que os rompimentos entre familiares e amigos por causa da Presidência tumultuada de Trump serão difíceis, senão impossíveis, de consertar, mesmo depois que ele deixar o cargo --seja quando for.
Em entrevistas com 10 eleitores --cinco apoiadores de Trump e cinco do candidato democrata, Joe Biden--, poucos anteviam uma cura para as relações pessoais arruinadas pelo mandato de Trump, e a maioria acredita que elas estão destruídas para sempre.
Ao longo dos quatro anos de sua Presidência fora dos padrões, Trump despertou emoções fortes em apoiadores e oponentes. Muitos dos primeiros admiram suas ações para reformar a imigração, sua indicação de juízes conservadores, sua disposição para descartar as convenções e sua retórica áspera, que consideram uma demonstração de sinceridade.
Democratas e outros críticos veem o ex-empreendedor imobiliário e ex-personalidade de reality show como uma ameaça à democracia norte-americana, um mentiroso contumaz e um racista que não soube lidar com a pandemia de coronavírus, que já matou mais de 230 mil pessoas no país. Trump refuta tais caracterizações classificando-as como "fake news".
Agora que Trump está atrás de Biden nas pesquisas de opinião, as pessoas estão começando a se perguntar se as fraturas causadas por um dos mandatos mais polarizadores da história dos EUA podem ser reparadas se ele perder a eleição.
"Infelizmente, não acho que a cura nacional é tão fácil quanto trocar de presidente", disse Jaime Saal, psicoterapeuta do Centro de Medicina Comportamental Rochester de Rochester Hills, no Michigan.
A eleição de Trump em 2016 dividiu famílias, destruiu amizades e fez vizinhos se voltarem uns contra os outros. Muitos recorreram ao Facebook e ao Twitter para publicar postagens sem papas na língua tanto contra Trump quanto contra seus muitos críticos, e os tuítes ousados do próprio presidente também atiçam as tensões.
Um relatório de setembro do apartidário Centro de Pesquisa Pew revelou que quase 80% dos apoiadores de Trump e de Biden disseram ter pouco ou nenhum amigo que apoia o outro candidato.
(Por Tim Reid em Los Angeles, Gabriella Borter em Raleigh, Carolina do Norte, e Michael Martina em Detroit; reportagem adicional da Elizabeth Culliford em Londres)